Colunistas - Paulo Wainberg

Reflexões e Conceitos

  • Quando os homens ousam interpretar Deus afetam apenas outros homens, pois Deus não existe para confirmar ou desmentir o que os homens dizem. Deus existe para que o Universo exista e para que tudo o que pertença ao Universo seja, igualmente, Universo. O Homem é parte do Universo, nem superior a ele, nem à parte dele, não é seu crítico, não é seu modificador, não é seu julgador. Porque, se fosse, Deus não existiria, portanto o Universo não existiria.
  • O Homem é violento, destrutivo, amoroso, criativo, bondoso, malvado porque esses são atributos do Universo, e apenas graças à razão (consciência) humana, esses predicados possuem os nomes que possuem. E graças às emoções, os humanos reduzem o Universo à sua própria significância, como se a existência fosse apenas o que os sentidos humanos são capazes de perceber.
  • As superstições, as religiões e as tradições impedem a humanidade de ser plenamente feliz, graças a elas seus dependentes, adeptos e seguidores querem ser como acham que a Humanidade era há cinco mil, dois mil, mil, cem, cinquenta e até mesmo um ano atrás.
  • A superstição é produto do medo, o medo é produto da consciência do desconhecimento que, por sua vez, é produto das emoções humanas.
  • A superstição cria mitos surreais, como sorte e azar, faz isto como se fosse possível modificar o que já aconteceu e como se fosse possível impedir o que vai acontecer.
  • O medo do azar e a ambição pela sorte criam os deuses humanos, pregados, reverenciados e difundidos por seres humanos ávidos, ávidos de poder e glória, acreditando em textos escritos quando a humanidade estava no mais primitivo estágio da ignorância: As religiões.
  • As tradições exigem pensamentos, comportamentos e interações imutáveis, cada grupo repetindo o que fizeram seus antepassados e lutando literalmente até a morte para que a sua tradição prevaleça sobre as demais.
  • Daí as guerras, as perseguições, as discriminações, as tragédias, o sofrimento.
  • É assim que a Humanidade deixa de cumprir aquilo que melhor justificaria a vida, geração após geração: Ser feliz.
Última atualização em Sex, 24 de Janeiro de 2014 08:14
 

Desabafo confessional

Certos períodos são penosos para mim, quando me sinto vazio e possuído por inacreditável indolência para escrever.
Normalmente assuntos, temas, histórias, personagens tumultuam minha cabeça sem parar, me deixando ávido por escrever, rico em sentimentos criativos e, quando é assim, sinto o máximo de prazer, capaz de excluir qualquer incomodação, qualquer desassossego.
Há uma permanente boa expectativa pela frente, vou sentar e escrever.
Porém quando me transformo em um vácuo, uma casa de ovo mental, a vida perde muito de sua graça e a sensação é a de que jamais poderei escrever novamente.
Nos últimos quatro anos, desde de 2010, tenho uma produção literária imensa, que começa com o romance A Teoria de Marie Schwramm, passa por centenas de crônicas, contos, poemas, frases e aforismos e quatro novelas reunidas em livro, com o título CALAZANS, BRUNSKY, PAULO, RODRIGO.
São textos a serem publicados, o romance e as quatro novelas já encaminhados para minha recente agente literária que, acredito com ansiedade cada vez maior, conseguirá vendê-los à uma editora. O demais textos são publicados aqui mesmo, neste blog, e compartilhados no facebook, para quem desejar ler.
Neste momento, porém, estou como nada, preguiçoso, desconcentrado, sem ideias e sem motivação.
Já passei por isto antes, nunca tão intenso, mas já passei.
Por isto espero que, como das outras vezes, a inércia opaca e descolorida em que me encontro, vai passar, vai passar, vai passar, vai passar….

Última atualização em Sex, 17 de Janeiro de 2014 07:40
 

Se você

  • Se você não quer pensar, não pense.
  • Depois não reclame, não dê vexame, rode no exame, desabe no tatame, se embuche com salame, não ame, não chame, não clame.
  • Após, por dias a fio, recuse o desafio, não caia no rio, a semente não abriu, você não subiu, também não caiu, não acendeu o pavio, foi no enterro do seu tio, perdeu o brio e foi o que se viu.
  • Se você não quer pensar, não pense.
  • Mas me olhe de frente, não me enfrente, de marcha a ré para frente, não fique contente, seja coerente, faça como quem mente, arranque um dente, morda uma serpente, banhe-se em óleo fervente e – é só o que lhe peço- não se lamente.
  • Em seguida desapareça, me esqueça, não obedeça, faça que sim com a cabeça, se desmereça, até o fim emagreça, nada me peça, nada me ofereça, faça que não com a cabeça, com ar de indiferença, olhar de quem não pensa.

 

(Obs: foto ilustrativa retirada da internet)

 

Última atualização em Ter, 17 de Dezembro de 2013 08:57
 

Quando tudo doi

  • Hoje cortei os cabelos e remocei no mínimo três meses. É notável como, na medida em que a idade avança, certas diferenças visuais aumentam ou diminuem a idade aparente das pessoas.
  • Conheço uma senhora de setenta e cinco anos que, após uma acurada plástica removedora de pelancas, elevadora de seios e bumbum, extirpadora de excessos abdominais, alisamentos rugais, niveladora de papada e esticamento dérmico em geral, apresentou-se fulgurante e fogosa em badalado acontecimento social exibindo o remodelado visual.
  • E ninguém notou.
  • Pois é. Quando eu tinha quarenta anos e cortava o cabelo eu remoçava dez. Anos. Hoje remoço meses, cada vez menos meses, fato que me leva à conclusão nada consoladora de que modificar a aparência não me remoça mais nem me deixa mais bonito, sensual ou elegante do que já sou naturalmente, modestamente falando.
  • Se há na vida um fato consumado este é a velhice. Ela chega e se instala sem pedir licença, sem cuspe nem camisinha. Um dia você acorda, escova os dentes e se olha no espelho e, cataplum, você é um velho.
  • Seu rosto é velho, o viço sumiu, a pele encardiu e o próprio olhar perde o brilho, o olhar da velhice é morno, achatado, as pálpebras tombaram e você vê cada vez menos.
  • Há os resistentes que apelam para cremes, loções, muitos acreditam que bosta de cavalo regenera, mas o nariz continua poroso após as aplicações e as papuças não dão tréguas e, vá que você resolva extirpá-las, o máximo que conseguirá é parecer um velho sem papuças. O que, para o efeito, é pouco, minha querida, muito pouco.
  • Os cabelos grisalhos que lhe davam um charme especial aos trinta hoje são brancos, perfeitamente adequados à sua idade senhoril e tudo aquilo que antes lhe assegurava rápido e seguro acesso às jovens hoje é recebido como uma manifestação carinhosa e paternal que transforma você “num amor de velhinho”, “coisa mais querida” e “num senhor super simpático”.
  • Isso dói, cara.
  • Quando você fica velho pode malhar doze horas por dia que, no máximo, conseguirá ser um velho sarado. Sobre o corpo esbelto e musculoso – que não resiste a uma semana de férias – está um rosto saudável e… velho.
  • O pior de tudo na minha opinião, é que todo o velho, por mais que negue sua velhice, por mais que se sinta “jovem por dentro”, é um anacrônico.
  • Não acredita?
  • Proponho um teste: vá para a fila de uma balada. Saradão, vestido na última moda, alegre, jovial (jovem por dentro) e procure se enturmar, tente comunicar-se com as tribos, com a garotada com quem você tanto se identifica.
  • Acredite, meu bom velhinho, que sob a saraivada de “tios”, “coroas”, e “com licença senhor”, você murchará como uva em passas, recolherá os flaps, dará de frente com a dura verdade da sua velhice e vai acabar a noite tomando cerveja no boteco de sempre. Aquele cujo balconista entende você.
  • Envelhecer não é um processo e sim uma maldição vital da qual ninguém escapa. O pior de tudo é que a grande sabedoria que você adquiriu com a velhice seria perfeita se você tivesse trinta anos, sabedoria que, aos trinta anos você não tinha.
  • Isso é injusto e dói, cara.
  • Existem mil livros, grupos, excursões, propostas, conferências, congressos, debates, encontros, bailes, reuniões e seminários querendo convencer os velhos que a velhice é a melhor idade.
  • Ora, ilustre poeta, douto filósofo, iluminado profeta, vá catar piolhos na cabeça da sua avó. Quero ver se vai achar isso quando for, você também, um velho!
  • O “tudo de bom” da velhice não passa de consolo, minha jovem, coisas boas que os velhos usufruem para compensar a juventude perdida. Usufruem? Claro que sim! Usufruir os netos, por exemplo, é o sonho de qualquer velho. Isso deve ser coisa muito boa, virar avô. Ter um neto para brincar, para ver crescer, para se maravilhar, amar e adorar. Prerrogativa da velhice, isso eu reconheço. Com trinta anos é muito difícil ser avô. Acontece, mas é raro.
  • Não ter que ir a cerimônias de formatura é outra vantagem da velhice. Os velhos vão direto à festa.
  • Andar de ônibus de graça. Conheço pessoas que nunca andaram de ônibus e que, depois de velhos, passaram a andar só para aproveitar plenamente as vantagens da velhice.
  • Jogar dominó em praças públicas é outro privilégio dos velhos, deitar à noite e suspirar aliviado porque não precisa transar, não ligar para a bronca dos filhos porque está muito gordo e, maravilha das maravilhas, ficar o tempo que quiser no banheiro sem ninguém batendo na porta.
  • E quando batem é sua mulher querendo apenas saber se você está vivo.
  • Das muitas coisas que aprendi na vida tenho certeza de apenas uma: Nada remoça um velho.
  • A não ser uma paixão.
Última atualização em Qua, 11 de Dezembro de 2013 12:29
 

O vermelho e o preto

  • Certas palavras parecem que são feitas umas para as outras. Exemplo: volátil e volúvel.
  • Volátil desvanece no ar, é o perfume, o éter, o sonho e o mercado financeiro.
  • Volúvel troca de lado com facilidade, é a mulher, o amigo de ocasião, o puxa-saco e o mercado financeiro.
  • Para ser mais explícito e correto, não é o mercado financeiro e sim O CAPITAL que é volátil e volúvel quando a serviço do mercado financeiro.
  • Correto? Acho que sim.
  • É que ouço tanta gente falar em "capital volátil" querendo falar em "capital volúvel" que, volátil ou volúvel, esse tal de Capital não parece ser nem um pouco de confiança, isto é, eu não apostaria todas as minhas fichas nele sabendo que, de uma hora para outra ele desvanece no ar ou troca de lado.
  • Imagine se eu vou chegar lá em casa, abrir a gaveta, recolher as fichas da caixa e apostar que o Capital está sólido e constante. Posso ser louco mas não sou burro como poderia dizer um marido traído da, suponhamos, Débora Secco, ao perdoá-la pela traição.
  • Para entender com clareza o que é mercado financeiro vou revelar novamente, o seu funcionamento, para o caso de você não ter me lido antes ou não ter se dado conta.
  • Existe o grupo de compradores financeiros, isto é, compram ações, moedas, metais, flores, dinheiro e tudo o mais que, como se convencionou chamar, é oferecido nas Bolsas, não as femininas com alças, fivela e tudo, mas as de Valores.
  • E existe o grupo de vendedores financeiros, isto é, os que vendem essas mesmas coisas.
  • Como nenhum dos dois grupos pode estar ao mesmo tempo em todas as Bolsas de Valores existentes no mundo, criou-se a figura do Corretor que, como todo o mundo sabe, é aquele cara que aparece na foto vibrando de felicidade, em dia de alta, ou então coçando a cabeça com ar desalentado e perplexo, em dia de baixa.
  • Teoricamente as Bolsas de Valores deveriam obedecer a uma regra, uma lei que não foi gerada em câmaras de deputados, em poderes legislativos ou em decisões judiciais intrometidas. Trata-se da famosa Lei da Oferta e da Procura cujo parágrafo único determina que quando a oferta for muito grande o preço baixa e quando a procura for muito grande o preço sobe.
  • É simples de entender, tomemos um exemplo doméstico: Quanto mais você procura a sua mulher menos você a encontra e quanto mais sua mulher se oferece menos você quer procurar por ela.
  • Entendeste?
  • Pois bem, a Lei da Oferta e da Procura, por não ser escrita, não figura em Constituições nem em Códigos, Funciona no plano imaginário dos subentendidos que, de tanto serem repetidos, acabam nos convencendo de que o que sobra enjoa e o que falta… faz falta, mesmo que gente não queira.
  • Voltando ao mercado financeiro e ao Capital a coisa funciona assim: se o grupo de vendedores enche a Bolsa com seus produtos, o preço deles cai e o grupo de compradores, fazendo uma espécie assim de, como dizem os argentinos, culo dulce, vai comprando aos pouquinhos até encher as próprias burras.
  • Porém – e aí é que está o grande lance – quando o grupo de compradores resolve investir pesado, quem faz o tal culo Dulce é o grupo de vendedores que vão mostrando seus produtos aos pouquinhos e o preço vai lá para cima.
  • Quando os dois grupos, em raros momentos de harmonia, se equilibram, os compradores comprando pouco e os vendedores também, aí o mercado financeiro é chamado de "estável" o que significa, em outras palavras, que nesse momento o Capital é concreto e leal.
  • Você, por exemplo, que pega metade de suas fichas e aposta em qualquer das fases do Capital, guardando a outra metade para não arriscar tudo, duas coisas podem acontecer: você se dá bem ou você se dá mal. Quando é que você se dá bem? Ora, quando você sai de lá com mais fichas do que as que apostou. E se dá mal no popular vice-versa que inclui o empate técnico, você sai com o mesmo número de fichas que tinha mas deixou de apostá-las em outra coisa e perdeu tempo.
  • Quanto mais me aprofundo no estudo do fenomenal mercado financeiro, o mais suscetível que já conheci, capaz de oscilar para cima e para baixa apenas porque um Presidente importante espirrou, mais me convenço de uma coisa, coisa esta que consiste na revelação que agora vou fazer, gratuitamente: O grupo de compradores é formado pelas mesmas pessoas do grupo de vendedores. Eles são os voláteis e volúveis, desvanecem no ar e mudam de lado e não o coitado do Capital, que está aí apenas para ajudar, fazer o bem e trazer felicidade.
  • Caso um Presidente importante espirre duas vezes os compradores percebem que uma forte gripe está a caminho e passam imediatamente para o lado de vendedores. Colocam seus produtos à venda, esperam que o preço baixe aos níveis da desgraça alheia e depois, volátil e voluvelmente mudam de lado, comprando tudo de novo a preço de banana. No meio do caminho você, que apostou suas fichas, se ralou meu chapa, caiu de quatro tentando segurar entre os dedos um restinho ainda não volatizado de suas fichas tão suadamente adquiridas.
  • No dia seguinte, como o Presidente importante não se gripou, os compradores voltam para o lado dos vendedores mas aí o preço está tão alto que o que lhe restou de fichas não compra sequer um nabo, que dirá um rabanete ou duas colheres de açúcar.
  • Nos dias de hoje, com a vida permanentemente on line, ao vivo e a cores, as Bolsas de Valores estão abertas vinte e quatro horas por dia, graças ao fuso horário, permitindo que os compradores aqui sejam vendedores ali, que os vendedores acolá sejam compradores mais aquém e, para seu governo, é atrás das suas fichas que eles estão pois é com elas que eles aumentam o bolo.
  • Acredite, o capitalismo se divide em duas correntes que quando vão bem se harmonizam e quando uma dá xabú contamina a outra sem remédio: o selvagem e o racional. O capitalismo selvagem é exatamente esse, volátil e volúvel, onde o que está em jogo é o valor da aposta e o cacife que você guardou para o colégio dos filhos.
  • O capitalismo racional é a indústria, o comércio, a profissão, a prática, a pesquisa, a ciência, a arte. Nele se vislumbram traços selvagens pois o objetivo final é o mesmo: O Lucro.
  • Entretanto neste existe uma mínima lógica, uma mínima relação de causa e efeito que, ao contrário do mercado financeiro, não desdenha tão grosseiramente da lei da oferta e da procura e, ao seu modo, condiciona-se a ela..
  • Não se convenceu? Proponho um teste: aposte suas fichas na roleta. No vermelho ou no preto, cinqüenta por cento de chances, certo? Imensas probabilidades de ganhar, certo? Errado. Observe a bolinha girando sobre os números e veja o que lhe acontece quando o croupier gritar ZERO.

 

Última atualização em Qui, 28 de Novembro de 2013 08:24
 


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