Colunistas - Paulo Wainberg

Uma história

  • Disse o Amor ao amor, com ar de quem não quer nada, que assim, assim, o melhor era cantar noutra freguesia. O amor, assustado com a safadeza do Amor, tratou logo de buscar uma explicação, uma entoação, uma embromação naquela declaração.
  • O Amor, porém, muito astuto, chamou o amor de fajuto, que aquilo era coisa de botar luto e que estava decidido, ia rasgar o estatuto.
  • Nunca! Disse o amor ao Amor, que você vai abandonar a espelunca, a nossa espelunca! Você sempre ganhou na marra, hoje ninguém me amarra, você fica e ponto final.
  • O Amor olhou para o amor, com cara de cafajeste, aquele seu jeito danado, o peste, que deixava o amor de joelhos, fazendo mil apelos, doidinho para cair de quatro, tirando blusa, saia e sapato.
  • Disse o Amor ao amor, que ele não era assunto, era coisa de defunto, que na cozinha comer um sanduíche de presunto, tomar uma coca-cola, e que o amor largasse sua mão, seu pé, e saísse da sua cola.
  • O amor assim ofendido fez beicinho, cara de choro e careta. Foi para o quarto e vestiu-se com a roupa preta, aquela que o Amor, quando via, virava um capeta.
  • Nem me vem com fantasia, disse o Amor ao amor, com voz dura, sem ternura, recheada de amargura. Cansei de poesia, de lua cheia no céu, bilhetes em guardanapos, recados no papel. Vou partir para outra, navegar outros rios, singrar novos mares, você, amor, fique na sua bagunça, lave sua louça suja, puxe a água da privada, meu negócio é voar, mesmo que seja no bar, onde posso tirar sarro, beber minha cerveja, fumar meu cigarro, não importa quem lá esteja.
  • O amor definhado sentiu que a coisa era séria. Encarou sua miséria e foi chorar no banheiro. Olhou-se no espelho, invocou o pai-de-santo, Deus e Jesus Cristo, seu rosto estava vermelho, era só pele osso e, no pescoço, estava nascendo um cisto.
  • O Amor bateu a porta da rua, deixando o amor arruinado, sozinho e sentindo a pua.
  • Eu hoje não volto atrás, pensou o Amor lá consigo, quero a liberdade, a calma, a paz, tenho certeza que consigo.
  • O amor abandonado logo refez a vida. Arrumou um novo amor, casa, roupa lavada e comida. Mal lembrava do Amor que um dia fora sua vida. Fez-se bela como nunca, aquela alma perdida.
  • Do Amor nunca mais se soube, salvo que se embriaga toda noite, na boate da Joaninha, tocando violão e cantando, por um prato de comida.
Última atualização em Qui, 22 de Janeiro de 2015 10:31
 

Halloween

  • Nesta sexta-feira 31 de outubro que, todos sabem, é apenas uma sexta feira 13 disfarçada, comemoramos o, como dizemos em português, Halloween, nada mais nada menos do que o dia das bruxas, numa versão livre.
  • Tradicionalmente nossas crianças vestem roupas assustadoras, bruxas, monstros, vampiros e lobisomens e saem, com absoluta segurança, pelas ruas da cidade, à noite, batendo nas portas das casas enfeitadas com abóboras desenhadas e velas dentro, gritando doces ou travessuras para os fingidamente assustados pais, amigos e até estranhos que, ardilosamente, já deixaram reservadas as balas e doces para as crianças.
  • Adoro as tradições brasileiras e, neste caso é verdade, foram as crianças que levaram os adultos à secular comemoração e nós, os adultos, nos reunimos para o jantar, fantasiados também de monstros, as mulheres com um pouco mais de ousadia e sensualidade porque a data merece, ou então vamos para os bares, festas e baladas e curtimos, com genuíno prazer, o fantasmagórico evento.
  • Os hollywoodianos massacres praticados por psicopatas enlouquecidos, vindos deste ou do outro mundo com uma sede de sangue que vou te contar, só acontecem nas periferias de nossas cidades, locais onde nós, festejadores do Halloween só passamos de carro e rapidamente, ou então para comprar drogas.
  • Porque falta, nesses lugares desprezíveis como vilas e favelas, o verdadeiro espírito cidadão, seus habitantes nem sabem que é dia de festa e, se sabem, fazem de tudo para estragá-la.
  • Inveja pura.
  • Festejemos, pois, esta data tão cara à nossa sociedade, tão integrada aos nossos valores e tão representativas da nossa sociedade.
  • Eu, particularmente, vou sair de Frankenstein e, com um pouco de sorte, descolo uma vampira para uns amassos no banco de trás.
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Última atualização em Sex, 31 de Outubro de 2014 08:45
 

Dinheiro

  • No início da minha vida, eu desprezava as pessoas que tinham ambição pelo dinheiro. Tinha por elas uma opinião menor, achando que havia, na vida, valor maior do que a mera cobiça pecuniária. Por causa disto, nunca lidei bem com dinheiro. Sempre gastei mais do que ganhei e sofria, quando me via devendo. Paradoxo ao vivo e a cores, um sujeito que desprezava o dinheiro e sofria quando devia dinheiro.
  • Mais tarde, ao custo de muito flagelo, descobri o prazer inusitado, de pagar a dívida. Sim, como era bom dever e ter dinheiro para pagar. Ao longo dos anos, cada vez mais maduro e infantil, adquiri a confiança duvidosa de ser, sempre, capaz de dar um jeito, porque nas horas mais dramáticas da dívida, acabei mesmo sempre dando um jeito. Por outro lado é bom dizer que, segundo meu pai, éramos descendentes diretos do Tzar Nicolau III, da Rússia, coisa que ele dizia brincando, e que durante um bom tempo, acreditei.
  • Quando percebi a brincadeira, era tarde, eu já estava acostumado a gostar das coisas boas da vida que… só com dinheiro se tem. Assim fui levando, o dinheiro entrando e saindo, mais saindo do que entrando e eu, aristocrata de araque, gastando e aproveitando. Hoje, quando as luzes começam a apagar, ainda lentamente, uma a uma e sem reposição, finalmente descobri a sabedoria máxima:
  • Dinheiro não é problema, não é problema algum, para mim e para ninguém. O grande problema, o imensurável problema, o dramático e terminal problema, é a falta de dinheiro.
Última atualização em Qua, 17 de Setembro de 2014 17:26
 

Racismo, discriminação e tolerância

  • Somos todos racistas, é da natureza humana, um sentimento impossível de não sentir.
  • O racismo consiste em não gostar de raças diferentes, pura e simplesmente.
  • O racismo é um sentimento associado diretamente o medo do que é diferente e desconhecido.
  • Não gostar de asiáticos, negros, índios, brancos, apenas para ficar na classificação original das raças humanas está inscrito no código genético do ser humano, nem mais nem menos.
  • A pluralidade dos povos, a razão, a emoção e as perversões ampliaram o conceito de racismo, termo que se expandiu para a intolerância religiosa, cultural, tradicional, gerando sentimentos como xenofobia, homofobia, antissemitismo e, num plano mais tristemente sofisticado, o pavor das classes sociais privilegiados aos pobres.
  • Racismo não é crime, assim como o desejo de matar não é crime.
  • Equivocadamente usou-se a palavra para criminalizar o ‘racismo’, como se fosse possível criminalizar o amor, o ódio, o ciumes e outros sentimentos e emoções humanas.
  • O que, é justo perguntar, é realmente criminoso?
  • A resposta parece óbvia: o crime consiste no ato, na ação, na prática e, no caso do racismo, na discriminação racial, na perseguição, na supressão de direitos, na violência, no ataque, no assassinato, no genocídio, na ofensa e todo e qualquer ato praticado por motivo de racismo (ou ódio, ciumes, cobiça).
  • O ser humano dispõe de instrumentos psicológicos e racionais para evitar a discriminação (crime) e com isto lidar e conviver com seus próprios sentimentos perversos, instrumentos que podem se reduzir a uma única palavra: Tolerância.
  • É através da tolerância que o preconceito é contido, que a ofensa não é praticada e a discriminação é evitada.
  • E tolerância é um exercício racional para aceitar o fato das diferenças, lidar com o medo e conviver em paz.

Última atualização em Seg, 28 de Julho de 2014 09:09
 

Lei é lei

  • Inconformado e irritado com a arrogância dos humanos que erguiam uma torre para chegar aos céus – a Torre de Babel – Deus resolveu puni-los, criando para eles várias línguas, impedindo assim que se entendessem e se compreendessem.
  • Portanto, toda vez que pregamos o entendimento e a compreensão entre as pessoas e os povos, estamos contrariando literalmente a vontade de Deus.
  • Para o mal e para o bem, a lógica é implacável.
  • Os profissionais das religiões, os adoradores literais da Bíblia e os fiéis de todas as religiões devem refletir sobre aquilo que pregam e, caso a caso, verificar se não estão infringindo ordens divinas taxativas e inexoráveis, sob as penas dos terríveis castigos a serem infringidos às almas eternas.
Última atualização em Qua, 18 de Junho de 2014 09:27
 


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