Romance,bolero e samba-canção



Quando o amor manda notícias,

valeu a pena esperar.
Aquele amor enrustido,
lá no fundo escondido,
Com medo de se revelar.
Sabe o amor sentido,
Do qual não se ousa falar?
Quando esse amor te responde,
Lindo, sorrindo e a cantar
Você nunca mais se esconde,
Abra os braços, do jeito de abraçar,
Receba os abraços, aqueles de endoidar,
E... deixe-se ficar,
Em êxtase total
Que só um amor revelado
Sabe como deixar.

Amor assim profundo,
Quando manda notícias,
É que ficou pelo mundo,
Impregnado de malícia,
Desejos de sacanagem,
Pernas a se enlaçar,
Mãos a te devorar,
Beijos de língua
A me conflagrar
E do teu corpo a miragem,
Os meus olhos
Inundar.

Quando o amor manda notícias saiba que valeu a pena esperar.
E mesmo que não seja verdade,
E mesmo que seja só vontade
Solerte e sub-reptícia,
A te fantasiar,
Não despreze a ocasião,
Sonhe - como eu sonhei -
Viva a ardente paixão,
Consigne, para constar,
Que esperar não foi em vão.

Paulo Wainberg
 

Casa de cada um



Nesta época, gosto de tratar da vida. Dou a roupa que não uso mais.
Livros que não pretendo reler. Envio caixas para bibliotecas. Ou
abandono um volume em um shopping ou café, com uma mensagem: "Leia e
passe para frente!".
Tento avaliar meus atos através de uma perspectiva maior.
Penso na história dos Três Porquinhos. Cada um construiu sua casa.
Duas, o Lobo derrubou facilmente. Mas a terceira resistiu porque era
sólida. Em minha opinião, contos infantis possuem grande sabedoria,
além da história propriamente dita. Gosto desse especialmente.
Imagino que a vida de cada um seja semelhante a uma casa. Frágil ou
sólida, depende de como é construída. Muita gente se aproxima de mim e
diz: - Eu tenho um sonho, quero torná-lo realidade! Estremeço.
Freqüentemente, o sonho é bonito, tanto como uma casa bem pintada. Mas
sem alicerces. As paredes racham, a casa cai repentinamente, e a
pessoa fica só com entulho. Lamenta-se.
Na minha área profissional, isso é muito comum.

Diariamente sou procurado por alguém que sonha em ser ator ou atriz
sem nunca ter estudado ou feito teatro. Como é possível jogar todas as
fichas em uma profissão que nem se conhece?
Há quem largue tudo por uma paixão. Um amigo abandonou mulher e filho
recém-nascido. A nova paixão durou até a noite na qual, no apartamento
do 10º andar, a moça afirmou que podia voar. Deixa de brincadeira ,
ele respondeu.
- Eu sei voar, sim! rebateu ela.
Abriu os braços, pronta para saltar da janela. Ele a segurou. Gritou
por socorro. Quase despencaram. Foi viver sozinho com um gato,
lembrando-se dos bons tempos da vida doméstica, do filho, da harmonia
perdida!

Algumas pessoas se preocupam só com os alicerces. Dedicam-se à vida
material. Quando venta, não têm paredes para se proteger. Outras não
colocam portas. Qualquer um entra na vida delas.
Tenho um amigo que não sabe dizer não (a palavra não é tão mágica
quanto uma porta blindada). Empresta seu dinheiro e nunca recebe.
Namora mulheres problemáticas. Vive cercado de pessoas que sugamsuas
energias como autênticos vampiros emocionais. Outro dia lhe perguntei:
- Por que deixa tanta gente ruim se aproximar de você?
Garante que no próximo ano será diferente. Nada mudará enquanto não
consertar a casa de sua vida.
São comuns as pessoas que não pensam no telhado. Vivem como se os dias
de tempestade jamais chegassem. Quando chove, a casa delas se alaga.
Ao contrário das que só cuidam dos alicerces, não se preocupam com o
dia de amanhã.
Certa vez uma amiga conseguiu vender um terreno valioso recebido em
herança. Comentei:
- Agora você pode comprar um apartamento para morar.
Preferiu alugar uma mansão. Mobiliou. Durante meses morou como uma
rainha. Quase um ano depois, já não tinha dinheiro para botar um bife
na mesa!
Aproveito as festas de fim de ano para examinar a casa que construí.
Alguma parede rachou porque tomei uma atitude contra meus princípios?
Deixei alguma telha quebrada?
Há um assunto pendente me incomodando como uma goteira?
Minha porta tem uma chave para ser bem fechada quando preciso, mas
também para ser aberta quando vierem as pessoas que amo?
É um bom momento para decidir o que consertar. Para mudar alguma coisa
e tornar a casa mais agradável.
Sou envolvido por um sentimento muito especial.
Ao longo dos anos, cada pessoa constrói sua casa.
O bom é que sempre se pode reformar, arrumar, decorar!
E na eterna oportunidade de recomeçar reside a grande beleza de ser o
arquiteto da própria vida.
 

Arrume tempo para ser feliz




É fundamental que você não repare apenas nas flores, mas tenha tempo para cheirar seus odores e apreciar suas cores, e principalmente, disponha de tempo para oferecer uma flor para alguém.

Arrume tempo para a boa musica..

é fundamental que você ouça uma boa música, mas é mais importante ainda, deixar que a música limpe a sua alma, que ela penetre no seu ser e que você viva cada nota.

Arrume tempo para relaxar.

Tenha tempo para se deixar levar pelas coisas simples da vida, como meditar, orar, emocionar se, brincar no parque, andar de patins, de bicicleta ou simplesmente não fazer nada...

Arrume tempo para uma viagem.

Pode ser uma viagem curta, ou longa, tudo depende de sua disposição, tempo e dinheiro, mas o mais importante é ter tempo para curtir a paisagem e não ficar esperando apenas pela chegada ao local.

Arrume tempo para uma boa leitura.

Leia um livro, mas tenha tempo para  ler  e viajar com os personagens, onde a emoção puder te levar.

Arrume tempo para organizar-se.

É fundamental ter tempo para organizar as suas coisas, mas é fundamental ter um tempo para organizar as suas idéias, seus desejos e reciclar os sonhos. Sonhos parados são como água estagnada, criam bichos e doenças.

Arrume tempo para a família.

É fundamental criar filhos, namorar (mesmo depois de 30 anos de casados), bater papo com os pais, com os irmãos, com os amigos mais próximos, mas é muito importante que você não guarde mágoas, por isso, a conversa ainda é a melhor resposta contra as dúvidas, dores e separações.

Arrume tempo para Deus.

É fundamental contar com Deus.

Seja qual for a sua crença, seja qual for a sua religião, sem Deus é impossível ser plenamente feliz. Quanto tempo de sua vida é dedicado a Ele? Quantos minutinhos você dedica a leitura de um salmo, um versículo, uma passagem da Bíblia para meditar e praticar mudanças. Quanto de suas decisões tem a opinião de Deus?

Arrume tempo para o amor.

Ame-se!

Ame muito.

Não se importe com as dores e decepções do amor, mais infeliz é aquele que ainda não viveu um grande amor, e todo amor fica enorme,  quando você respeita o sentimento que habita em você e existe para te fazer feliz!

Recebido via email Arlindo Filho
 

O corpo




Um homem desconhecido está morto na calçada. Ainda assim, indignado com o circo armado em torno de sua morte, concede uma última entrevista para uma repórter.


Personagens:


A fotógrafa
A repórter
João Silva, o defunto
Pederneiras, o câmera


Início da esquete


Há um corpo deitado numa calçada qualquer. Não se sabe quem é. Não se sabe do que morreu. Farejando uma possível notícia, uma equipe de jornalistas entra em cena e se aproxima do corpo (a repórter, o câmera e a fotógrafa). Assim que a fotógrafa entra em cena, começa a tirar fotos do corpo de todos os ângulos possíveis.


Pederneiras – Ah! Já não era sem tempo! E eu achando que esta sexta feira ia ser meio morta!
Repórter – Felizmente, há sempre uma boa morte nas calçadas de Curitiba. Não é como em São Paulo e Rio de Janeiro, mas enfim...a gente faz o que pode.
Pederneiras – Mas cadê os urubus?
Repórter – Este infeliz acabou de morrer.
Pederneiras – Estou falando das pessoas. Você sabe como as pessoas são, não podem ver um corpo na calçada que já sentem o cheiro de sangue e se aproximam pra ver a carniça. Um bando de sensacionalistas!
Repórter – É melhor que não tenha ninguém, assim podemos fazer a matéria em paz.
Pederneiras – Mas que matéria? Do que será que este animal morreu?
Repórter – Vai saber. Se morreu, já é meio caminho andado.


A repórter anda em volta do corpo, olha com certa aflição para o defunto. Cobre a boca com um lenço.


Repórter – Pederneiras, você pode descobrir como este infeliz evoluiu para o óbito?
Pederneiras – E eu tenho cara de legista?
Repórter – Por favor!


Pederneiras se ajoelha e fica farejando o corpo, vira o corpo de lá para cá.


Pederneiras – Nenhum buraco de bala. Nenhum ferimento visível. Nenhum arranhão. Nem mesmo uma cutícula. Algo em diz que estamos perdendo nosso tempo!
Fotógrafa – E você diz isso agora que eu já fiz o book do defunto?
Pederneiras – Muita calma, muita calma! Nem tudo está perdido. Olha só o que o desgraçado tem na mão esquerda.
Fotógrafa – Uma rosa?
Pederneiras – Uma rosa vermelha. Deve ter sido crime passional.


A fotógrafa tira uma foto da rosa na mão do morto.


Repórter – Pois eu acho que não temos nada de mais. Se essa rosa tivesse enfiada no olho esquerdo dele, daí sim teríamos uma notícia!
Fotógrafa – Certeza que ele está morto?


Pederneiras encosta a cabeça no peito do morto, fareja mais um pouco.


Pederneiras – Não tem pulsação.
Repórter – Pode ser catalepsia.
Pederneiras – Não seja pessimista!


Pederneiras mete a mão no bolso do morto, tira a carteira dele, fareja, abre, fuça.


Pederneiras – João Silva.
Repórter – E o que mais?
Pederneiras – Mais nada. Tem uma carta de baralho aqui dentro. Uma dama de paus. .
Repórter – E o que isso quer dizer?
Pederneiras – Como eu vou saber?
Repórter (decepcionada) – Era um ninguém.
Pederneiras – Pode ser, pode ser. Mas vamos fazer nosso trabalho, ok?


A repórter se posiciona em frente ao corpo, segura o microfone. Pederneiras fica em sua posição de câmera e a fotógrafa se esconde atrás de Pederneiras.


Pederneiras – Vamos lá...gravando!


A repórter sorri, olha para a câmera.


Repórter – Estamos aqui na rua Saldanha Marinho, onde João Silva, conhecido jogador de pôquer da região, foi assassinado a sangue frio por uma gangue de mexicanos que abriram um cassino de pôquer clandestino na Alferes Poli. Suspeita-se que João Silva tinha um caso com Rosa Cruz, noiva do líder do cartel. O assassinato teria motivos passionais. Voltaremos com mais informações assim que sair o resultado da autópsia, caso o morto autorize.


Pederneiras fica furioso, larga a câmera.


Pederneiras – Está tirando com a minha cara?
Repórter – Acorda, Pederneiras! Não tem notícia nenhuma aqui!
Fotógrafa – Eu quero saber quem é que vai pagar pelas fotos!


Os três vão para um canto e começam a discutir, um atropelando a fala do outro. Sem se darem conta, João Silva fica sentado e diz com a voz humilde e cansada.


João Silva – Com licença...


Os três continuam a discutir sem se darem conta de João Silva.


João Silva – Com licença!


Os três se calam e olham petrificados para João Silva.




Fotógrafa – Eu vejo gente morta...
Pederneiras – Com que freqüência?
Fotógrafa – O tempo todo...


João Silva se aproxima, tímido.


João Silva – Eu não quero atrapalhar o trabalho de vocês, mas não acho muito bacana o que vocês estão fazendo. Com todo o respeito.
Pederneiras – Cacete! Que defunto educado!
Repórter – Defunto coisa nenhuma! Eu disse que era catalepsia! Eu avisei que não temos notícia por aqui!
Pederneiras – Como não?! “A impressionante história do homem que voltou da morte”. Como não tem notícia?
Fotógrafa – A questão é que eu perdi meu tempo tirando 47 fotos de um homem que simplesmente desmaiou na Saldanha Marinho!
João Silva – Olha...eu não quero ser desrespeitoso de novo,mas...o caso é que realmente estou morto.
Pederneiras (animado) – Eu não disse? Farejo uma notícia a “éguas” de distância!


A fotógrafa também se anima e tira mais duas fotos do morto (?).


Repórter – Notícia! Que notícia? “Louco varrido desmaia na calçada!”. É isso?!
Fotógrafa - A questão é que eu perdi meu tempo tirando 49 fotos de um pinel que simplesmente desmaiou na Saldanha Marinho!
Pederneiras – E daí? Louco que se finge de morto também é notícia.


João Silva pigarreia.


João Silva – Não sou louco. E nem desmaiei. Morri mesmo.
Repórter (cética) – E morreu como?
João Silva – Coisinha de nada. Estava indo visitar minha namorada. Era hoje que ela ia me dizer se a resposta é “sim”. E de repente, uma pressãozinha no peito. Um formigamento no braço esquerdo. Tudo foi ficando escuro. Um enfartozinho à toa.


Repórter – Enfarto não é notícia.
Pederneiras – É, nisso eu tenho que concordar. Sabem quantas pessoas morrem de enfarto por dia?
Fotógrafa – Quantas?
Pederneiras – Não tenho a menor ideia, mas com certeza uma porrada de gente.
João Silva – Se não for muito incômodo, eu gostaria de continuar minha versão. (pigarreia) Lá estava eu entrando num túnel gelado e...
Pederneiras – Posso gravar isso?
Repórter – Não! Não vamos desperdiçar fita a toa! Chega de bater palma pra louco dançar!
Pederneiras – Vou filmar mesmo assim.
João Silva (pigarreia) - ...E no final do túnel gelado, eu resolvi olhar pra trás e dar uma última espiada no meu corpo. Foi daí que vi três urubus em volta dele falando um monte de bobagens.
Fotógrafa – Três urubus?
João Silva – É. Um com uma câmera, um com microfone e outro com máquina fotográfica.


Os três jornalistas se olham.


João Silva – Só voltei pra avisar que perdôo vocês. E que vou puxar os seus pés no resto da merda de vida de vocês se vocês continuarem com esta palhaçada!
Pederneiras – Olha, seu João Silva...a culpa não é nossa, viu? É que ninguém quer saber de notícias boas.
João Silva – E ninguém quer saber de fantasma puxando o pé também, está certo? Cuidem-se, meus amigos, ou vão acabar suas vidas dividindo inferno com uma centena de Datenas!


João Silva volta a deitar no chão, segura a rosa sobre o peito e fecha os olhos novamente, desta vez para sempre. Os três jornalistas se aproximam do corpo e farejam o ar ao mesmo tempo.


Repórter – O cheiro da morte.
Pederneiras – O cheiro da morte.
Fotógrafa – O cheiro da morte.
Repórter – O melhor é irmos embora. Em algum lugar tem uma notícia esperando por nós.
Pederneiras – E se desta vez fosse uma notícia boa?
Fotógrafa – É. Qualquer coisa. Esporte. Economia. Cultura!


Os três se olham. Depois de um breve silêncio, caem na risada.


Pederneiras – Vamos embora sim, que nada substitui o sangue. E este infeliz não tem sangue.


Pederneiras e a repórter vão saindo de cena, quando percebem que a fotógrafa está olhando pensativa para o corpo.


Repórter – O que foi?
Fotógrafa – Eu estava pensando. Será que existe mesmo um inferno cheio de Datenas? Será que lá é o mundo cão?
Pederneiras – Deixa disso! Do mundo, a gente só conhece este aqui! E o mundo cão dá audiência.
Fotógrafa – Mas será que a culpa é nossa?
Pederneiras (irritado) – Culpa do que, minha filha?
Fotógrafa – Do sangue dar audiência.
Pederneiras – Mas é claro que a culpa não é nossa!
Fotógrafa – Então...de quem é a culpa?


Os três jornalistas olham ao mesmo tempo para a platéia. O morto também se levanta, sinistramente, e fica encarando a platéia.
Os quatro se dão as mãos e fazem uma reverência.


FIM

Autor: Diego Gianni
 

L'Ultima Notte



Que estranho sonhar com você!

Embalado pelo deus Morpheus,
eis que teu rosto apareceu,
como a imagem de um camafeu.

E o que foi que aconteceu?

Acordei suspirando!

Morto de amores!

Gritei: “yo estoy amando!”.

Enamorado!

Morto e vivo de amores!

Ah, que sonho falso e cruel
de mil e uma dores.

Eu segurava tuas mãos,
nossos corpos em carrossel,
nossos lábios se encostavam,
teus olhos eram de “quem diria”,
eu te abraçava e ria, sorria...

Mas depois, para que despertar?

Por que, mulher, sonhei com teu rosto?

Fui feliz em cada segundo,
mas abri os olhos, para meu desgosto,
e agora, sou ainda mais sozinho no mundo.

Diego Gianni
(11/10/2011)
 

O novo rico




- Manda o troco em raspadinha que hoje eu quero bancar o idiota!


Quem disse isso foi Maneco Glauber, ex – tropeiro, atual peão de obras, futuro ex-miserável e novo ricaço, cousa que o pobre diabo ainda não sabe.
Saberá nesta mesma linha. A próxima é de comemoração.


- Ganhei! Ganhei!


A raspadinha deu três valores iguais, coisa assim de duzentos mil reais, reais que nem pareciam reais, tão utópicos que eram.
Fez-se aquele silêncio de estado de choque na casa lotérica de Curitiba: “como assim ganhou?; Ganhou? Ganhou mesmo?; Quem? Quem ganhou?”.
Oras, ninguém estava ali pra ganhar, ali se estava pra sonhar e nada mais, quem é aquele peão sujo de obras de camisa maltrapilha berrando feito um doidivanas e anunciando aos quatro céus que havia ganhado?

- Ganhei, porra!


Era Maneco Glauber, ex-tropeiro, ex-peão de obras e novo ricaço, que duzentos mil não é de se jogar fora!
Na semana seguinte ao milagre lotérico, muita coisa na vida de Maneco mudou.
Mas não tudo.
Mortadela ainda era uma delícia, quem diria. E sapato é coisa de viado, macho mesmo anda por aí mostrando os dedos – de preferência com a unha do dedão inflamada.
No que diz respeito aos seus hábitos e costumes, Maneco bem que tentou “evoluir”. Agora podia entrar pra alta roda. Pra quem havia sido chutado feito cachorro morto à vida / morte todinha, que mal havia em tentar mudar?
Virou sócio do clube curitibano, o mais chique da cidade de sorriso amarelo. Ônibus? Never more baby, doravante apenas táxis. E sem puxar conversa com o chofer, que tagarelar é coisa de pobre.
O que mudou mesmo foi a volta de Marcinha, Marcinha que tantas vezes pisara no coração de Maneco, ex-tropeiro, ex-peão de obras, ex-desiludido.


- Pensei muito sobre nós dois. - disse ela.
- E...? – encorajou Maneco.
- Descobri que te amo.


Maneco fingiu acreditar, Marcinha fingiu não ligar para os duzentos mil. Fez-se do amor uma transação que, a priori, deixava Maneco num contentamento que só.
Mudou-se com a fiel amada para um bairro nobre, ele mesmo, Maneco, ex-tropeiro, ex-peão de obras, ex-morador do...
Bom, desculpem o palavreado que nem é invenção minha, mas Maneco deixou o cu do Tatuquara e partiu de mala e cuia pro coração do Batel.
Com isso perdeu alguns prazeres. Pedir um café preto no Batel não era a mesma coisa. Demorava cinco minutos (ou mais) para vir à mesa uma xicarazinha miúda com um micro biscoitinho de chocolate. Sentiu saudades dos botecos, onde você entra, dá um soco no balcão e brada:


- Um preto sem açúcar!


Era assim que era e não é mais.

Pra terminar a história do Maneco.
que nem vale tanto a pena,
num ou noutro repeteco,
de repente vai poema

Maneco Glauber
Eita nóis, que mundo insano
Das quebradas da Vila hauer
Para o clube curitibano

És esposo de Marcinha
Por quem teve tanta tara
Era tão fria essa vizinha
Para lá de Tatuquara

Maneco agora usa chapéu
Come rúcula e chicória
Maneco mora no Batel
E Batel é outra história

Para as compras de natal
Adeus, shopping Total
Para as compras de natal
Hello, shopping Crystal

Maneco tem tudo
Tudo o que sempre quis
Rico homem sem estudo
Tem tudo pra ser feliz

Mas tem algo de tristeza
Aquela coisa sem nome
Que nos tempos de pobreza
Era simples chamar de fome

Era simples, era simples
Era simples chamar de fome


Diego Gianni
(07/10/2011)
 


Página 1 de 30
Copyright © 2011 Acontece Curitiba. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por LinkWell.