O mito do pênis

PAM! PAM! PAM!

Tomé, psicólogo especialista em problemas sexuais, ouviu as batidas na porta

de seu consultório e foi abrir para Osório, que no telefone parecia estar

desesperado.

-    Doutor Tomé?

-    O próprio.

-    Obrigado por abrir um horário pra mim! Eu não sei mais o que fazer! –

disse o pobre coitado se deitando no divã.

-    Se acalme e comece pelo começo.

Dado o pleonasmo, Osório pôs-se a desabafar.

-    Trata-se do meu pênis.

-    Sei.

-    Me incomoda muito!

-    O que exatamente no seu pênis lhe incomoda?

-    O tamanho. – admitiu envergonhado.

Um caso típico, pensou o doutor Tomé.

-    Senhor Osório...muito já se falou sobre o tamanho do pênis. Teses

elaboradas, bombas de alargamento peniano, promessas da homeopatia...o

próprio Albert Einstein só desenvolveu a teoria da relatividade por causa do

seu complexo diante da esposa. Especialmente nas noites de frio, ele dizia à

ela que “tudo é relativo”, ou pra resumir, que diferença faz se o pênis tem

7, 14 ou 30 cm diante da imensidão do universo?

-    Mas doutor...

-    Ontem mesmo, acredite, atendi um caso semelhante ao seu, mas com certeza

muito pior. Um anão japonês, já viu uma coisa dessas?

-    O doutor não está entendendo...o problema é que meu pênis é grande demais.

Fez-se silêncio no recinto. Isso era novidade.

-    Imenso! Colossal! Eu não tô dando conta, doutor!

-    Ainda não entendi seu problema. Metade dos homens da face da Terra, dentre

os quais eu me incluo, desejariam ter um pênis mais portentoso.

-    Não o meu! – disse quase em prantos – Acredite, não o meu!

-    Não pode ser tão grande assim. Qual é exatamente o tamanho?

-    Não faço idéia.

-    Você nunca quis medir?

-    Tentei uma vez, mas acabou a cola.

-    Cola? Pra que cola?

-    Pra colar as fitas métricas.

Tomé tentou segurar o riso e saiu uma tosse meio esquisita. Certamente se

tratava de um lunático, um demagogo, um...

-    O doutor quer dar uma espiadinha?

-    Eu...? – ruborizou Tomé – Isso vai contra a ética...

-    Doutor Tomé, o senhor precisa ver para crer!

-    Tudo bem...mas devo avisar que esta consulta está sendo filmada.

O médico não conseguiu segurar o grito de espanto quando Osório baixou a

calça.

-    Meu Deus! Eu vou ter que cobrar a consulta em dobro!

-    Eu não disse?

-    Parecem até gêmeos xipófagos!

-    O que eu faço, doutor?

-    Levante as mãos pro céu e agradeça a Deus! – bradou Tomé numa mescla de

inveja e admiração – Senhor Osório, o próprio cajado de Moisés parece um

palitinho perto...disso! O senhor deve conseguir todas as mulheres do mundo!

-    Antes fosse! – e emendou num choro sentido – Eu sou virgem!

-    Está de sacanagem comigo? Alguém com um...troço deste tamanho não pode ser

virgem!

-    Mas sou! – reafirmou em soluços.

-    Mas...mas... – gaguejou Tomé incrédulo – Esta é a Ferrari dos pênis!

-    E de que adianta ter uma Ferrari se ela é grande demais para entrar em

qualquer garagem?

-    Oh...entendo.

-    Eu não sei o que fazer!

-    Vamos achar uma solução. Se você recebeu este dom, pra alguma coisa há de

servir!

-    Isso não é dom! Chico Xavier tinha um dom! Eu tenho uma maldição! Eu...o

que está fazendo? Não tire fotos!

-    Desculpe. – disse guardando a máquina – Uma curiosidade médica: como você

consegue fazer as coisas do dia a dia com essa...esse...isso aí?

-    Aprendi a me virar. Sabe as três batidas que eu dei na porta agora há

pouco?

-    Sei.

-     Foi com “ele”.

Tomé olhou com nojo para a porta branca do consultório. No dia seguinte a

mandaria trocar.

-    E também nas olimpíadas em Sidney...fui campeão no salto com vara. Depois

me desclassificaram por eu ter saltado sem nada nas mãos.

-    Compreendo...

-    É só problema, doutor! Outro noite, de madrugada, estava tão apertado que

tive que urinar no meio da rua.

-    E daí?

-    O doutor deve ter ouvido falar daquela enchente que matou setenta pessoas.

-    Meu Deus...

-    O que eu faço, doutor? Isso não é um pênis, é um encosto!

Mas o doutor nada pode responder. Era um caso sem precedentes. Osório saiu

do consultório do mesmo jeito que entrou. Minto. Sem o dinheiro da consulta,

estava mais duro ainda...e de saco cheio.

A grande ironia de sua vida aconteceu meses mais tarde, ao se distrair e

quebrar o nariz em um poste. Perda total. Para reconstituírem seu rosto, os

médicos usaram parte do tecido de seu “dito cujo”, por assim dizer.

Nas noites de sexta, Osório costumava reunir os amigos, e entre uma ou outra

bebida, contava a tragicômica história de como parte do seu pênis havia

reconstituído o rosto. A maioria achava essas conversas um tanto

escatológicas, mas Osório nem ligava.

Mesmo porque, depois da cirurgia, passou a ser muito cara de pau.


Diego Gianni


 
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