Papas na lingua


Pode ser que seja impressão minha. Não sei. Mas tenho notado, dentre tantas e tantas divisões que podemos metaforizar para dividir o mundo, uma que me incomoda bastante: pessoas que falam o que pensam, pessoas que não falam o que pensam.

Os calados, como eu, podem facilmente serem taxados de submissos.

Gosto de observar, o que também traz um certo perigo comportamental...Pois quem muito observa, tende a achar que todos também o estão observando. E não é bem assim. Ninguém mais tem tempo para observar, contemplar, filosofar. A onda do momento é dizer o que pensa, “sem papas na língua” (como se a tal fosse um monumento póstumo ao vaticano).

Como hoje todo mundo resolveu ser formador de opinião (as redes sociais não me deixam mentir), opina-se sobre qualquer assunto sem que se tenha o mínimo de fundamento. Liberdade de expressão? Tudo bem, que maravilha, mas se fosse possível analisar estaticamente, quanta coisa boa podemos extrair de uma tonelada de asneiras?

“Eu falo o que penso”.

Você já ouviu isso. São pessoas que confundem ter personalidade forte com falar o que pensam. Não pensam duas vezes para criticar algo ou alguém e vomitam vogais e consoantes em quem estiver no caminho. São “os juízes da humanidade”.

Falam em voz alta. Quase berram. Sabem de tudo um pouco e de pouco um tudo. Declaram-se as pessoas mais verdadeiras do mundo, pois são incapazes de falar pelas costas de alguém – e são as que mais fazem isso.

Simplesmente não conseguem ficar caladas. Sentem prazer com a imagem que passam para os outros. “Fulano tem personalidade forte”.

Quem é quieto, de voz mansa, costumeiramente é atropelado por quem diz o que pensa. E quanto se perde com isso.

Mas essa é uma opinião um tanto parcial. Bem sei que o mundo é uma selva de pedra e a maior parte da humanidade quer mais é que o mundo externo ao umbigo se exploda. Dizer o que se pensa sem meias palavras é um trauma social mal resolvido, uma espécie de rugido contemporâneo - versão web 2.0.

Não há o menor problema em você falar o que pensa, contanto que você preencha um requisito básico: pensar! Daí sim as pessoas olharão pra você com o devido respeito, pois você não apenas fala o que pensa...Como também pensa! Uau!

E se além disso você ainda for uma pessoa educada...Bom, daí é a glória, é o orgasmo coletivo. Qualquer coisa abaixo disso é apenas você tentando marcar território mijando nos ouvidos alheios.

Aproveito o final desta crônica (na qual escrevi o que penso) para divulgar que estou vendendo um filtro de fácil instalação entre o cérebro e a língua – língua, aliás, que com ou sem papas, continua sendo o derradeiro chicote da bunda.

 

 

Diego Gianni

(17/08/2011)

 

O mito do pênis

PAM! PAM! PAM!

Tomé, psicólogo especialista em problemas sexuais, ouviu as batidas na porta

de seu consultório e foi abrir para Osório, que no telefone parecia estar

desesperado.

-    Doutor Tomé?

-    O próprio.

-    Obrigado por abrir um horário pra mim! Eu não sei mais o que fazer! –

disse o pobre coitado se deitando no divã.

-    Se acalme e comece pelo começo.

Dado o pleonasmo, Osório pôs-se a desabafar.

-    Trata-se do meu pênis.

-    Sei.

-    Me incomoda muito!

-    O que exatamente no seu pênis lhe incomoda?

-    O tamanho. – admitiu envergonhado.

Um caso típico, pensou o doutor Tomé.

-    Senhor Osório...muito já se falou sobre o tamanho do pênis. Teses

elaboradas, bombas de alargamento peniano, promessas da homeopatia...o

próprio Albert Einstein só desenvolveu a teoria da relatividade por causa do

seu complexo diante da esposa. Especialmente nas noites de frio, ele dizia à

ela que “tudo é relativo”, ou pra resumir, que diferença faz se o pênis tem

7, 14 ou 30 cm diante da imensidão do universo?

-    Mas doutor...

-    Ontem mesmo, acredite, atendi um caso semelhante ao seu, mas com certeza

muito pior. Um anão japonês, já viu uma coisa dessas?

-    O doutor não está entendendo...o problema é que meu pênis é grande demais.

Fez-se silêncio no recinto. Isso era novidade.

-    Imenso! Colossal! Eu não tô dando conta, doutor!

-    Ainda não entendi seu problema. Metade dos homens da face da Terra, dentre

os quais eu me incluo, desejariam ter um pênis mais portentoso.

-    Não o meu! – disse quase em prantos – Acredite, não o meu!

-    Não pode ser tão grande assim. Qual é exatamente o tamanho?

-    Não faço idéia.

-    Você nunca quis medir?

-    Tentei uma vez, mas acabou a cola.

-    Cola? Pra que cola?

-    Pra colar as fitas métricas.

Tomé tentou segurar o riso e saiu uma tosse meio esquisita. Certamente se

tratava de um lunático, um demagogo, um...

-    O doutor quer dar uma espiadinha?

-    Eu...? – ruborizou Tomé – Isso vai contra a ética...

-    Doutor Tomé, o senhor precisa ver para crer!

-    Tudo bem...mas devo avisar que esta consulta está sendo filmada.

O médico não conseguiu segurar o grito de espanto quando Osório baixou a

calça.

-    Meu Deus! Eu vou ter que cobrar a consulta em dobro!

-    Eu não disse?

-    Parecem até gêmeos xipófagos!

-    O que eu faço, doutor?

-    Levante as mãos pro céu e agradeça a Deus! – bradou Tomé numa mescla de

inveja e admiração – Senhor Osório, o próprio cajado de Moisés parece um

palitinho perto...disso! O senhor deve conseguir todas as mulheres do mundo!

-    Antes fosse! – e emendou num choro sentido – Eu sou virgem!

-    Está de sacanagem comigo? Alguém com um...troço deste tamanho não pode ser

virgem!

-    Mas sou! – reafirmou em soluços.

-    Mas...mas... – gaguejou Tomé incrédulo – Esta é a Ferrari dos pênis!

-    E de que adianta ter uma Ferrari se ela é grande demais para entrar em

qualquer garagem?

-    Oh...entendo.

-    Eu não sei o que fazer!

-    Vamos achar uma solução. Se você recebeu este dom, pra alguma coisa há de

servir!

-    Isso não é dom! Chico Xavier tinha um dom! Eu tenho uma maldição! Eu...o

que está fazendo? Não tire fotos!

-    Desculpe. – disse guardando a máquina – Uma curiosidade médica: como você

consegue fazer as coisas do dia a dia com essa...esse...isso aí?

-    Aprendi a me virar. Sabe as três batidas que eu dei na porta agora há

pouco?

-    Sei.

-     Foi com “ele”.

Tomé olhou com nojo para a porta branca do consultório. No dia seguinte a

mandaria trocar.

-    E também nas olimpíadas em Sidney...fui campeão no salto com vara. Depois

me desclassificaram por eu ter saltado sem nada nas mãos.

-    Compreendo...

-    É só problema, doutor! Outro noite, de madrugada, estava tão apertado que

tive que urinar no meio da rua.

-    E daí?

-    O doutor deve ter ouvido falar daquela enchente que matou setenta pessoas.

-    Meu Deus...

-    O que eu faço, doutor? Isso não é um pênis, é um encosto!

Mas o doutor nada pode responder. Era um caso sem precedentes. Osório saiu

do consultório do mesmo jeito que entrou. Minto. Sem o dinheiro da consulta,

estava mais duro ainda...e de saco cheio.

A grande ironia de sua vida aconteceu meses mais tarde, ao se distrair e

quebrar o nariz em um poste. Perda total. Para reconstituírem seu rosto, os

médicos usaram parte do tecido de seu “dito cujo”, por assim dizer.

Nas noites de sexta, Osório costumava reunir os amigos, e entre uma ou outra

bebida, contava a tragicômica história de como parte do seu pênis havia

reconstituído o rosto. A maioria achava essas conversas um tanto

escatológicas, mas Osório nem ligava.

Mesmo porque, depois da cirurgia, passou a ser muito cara de pau.


Diego Gianni


 

Deu$$


Se a bíblia fosse reescrita hoje (quero dizer assim, no mundo consumista de hoje), os autores modernos não deixariam de incluir nas entrelinhas as mais improváveis propagandas.

 

Jesus humildemente lava os pés de seus apóstolos, mas fica claro que antes retirou as sandálias Havaianas deles...E alguns versículos antes, ao transformar água em vinho, Judas dá de ombros e resmunga:

- É, mas é Campo largo.

 

E poderia até haver, quem sabe, uma parte institucional da bíblia, tipo aquelas campanhas melodramáticas que o governo lança vez ou outra:

 

Davi se vê a frente do gigante Golias, que faz chacota dele. Davi taca uma pedra no meio da testa de Golias, que cai por terra e depois tem sua cabeça cortada.

“Bullying. Você também pode reagir”.

Artistas da moda não perderiam a boquinha de fazer publicidade no livro mais lido do mundo:

 

Livro do apocalipse, o último dos livros da bíblia. A terra está um caos. Anjos travando batalhas com demônios. Monstros escatológicos. Trombetas anunciando o fim do mundo. E quando os meteoros começam a cair, Luan Santana entoa o “meteoro da paixão”.

É o juízo final.

 

Pois é, acho que não daria certo. O mundo é capitalista demais. Pensem no absurdo de Noé cansado, mas com a sensação de dever cumprido após acomodar todos os animais na arca.

Deus aparece e avisa:

 

- Não não não, meu caro Noé. Ainda resta um casal de animais lá fora.

- Mas não há mais espaço!

- Eles DEVEM entrar, Noé!

 

A contragosto, Noé vai abrindo passagem até a porta da arca. Quando a abre, esbraveja:

 

- Pôneis malditos!

 

É. Não daria certo.

 

Diego Gianni

(11/08/2011)

 

Ali

Alice diz

que ali se diz

que a vida é boa.

Ali se sabe

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Santo

Rutênio, velho pelo próprio nome.

Alguns nomes não se desgastam com o tempo. Outros, envelhecem no decorrer da vida. Mas Rutênio é o tipo de nome que traz uma carga de velhice logo nos primeiros anos da pessoa.

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O velho mundo

Dizem que antes as pessoas eram mais unidas.

Família tinha um outro significado.

Eram pessoas dispostas numa mesa.

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