Colunistas - Paulo Wainberg

Conclamação



Homens, temos que nos unir!

Chegou o momento definitivo, agora que já temos um bóson a nos explicar e, provavelmente, a nos consumir.

É imperioso que, num gesto único e simultâneo, declaremos nossa total submissão às mulheres, seus gostos,
desejos e, principalmente ordens.

Nós temos que passar o tempo inteiro sorrindo, como elas nos aconselham, isto é muito importante, ninguém
irá agredir um imbecil com permanente sorriso nos lábios.

Temos que acordar alegres, bem dispostos, operativos e prontos para as funções, desde preparar o café
até levar as crianças à escola.

Elas trabalham, homens!

Temos que respeitar isto.

Fundamental termos um ramo de rosas sempre à mão, pois elas afirmam, principalmente no facebook,
que uma flor vale mais do que mil palavras.

Gatos! Não podemos esquecer os gatos. Elas adoram gatos, enchem páginas com fotos de gatos e,
 para não esquecermos quem mandam, publicam gatos abandonados e deixam bem claro que a
responsabilidade é nossa.

Outros bichos também, cachorros, temos que agradar as mulheres, nossa casa deve sempre,
estar repleto de cachorros, desde mimosos até os grandões, de todas as marcas e cores.

E não podemos esquecer, jamais, do saquinho plástico para recolher as coisas que os bichos fazem.

Homens! Temos que ser fortes!

Ao primeiro sintoma de uma lágrima nos olhos delas, há que ampará-las com suaves abraços, doces palavras reiterados carinhos.

Quando virmos a foto de uma criança, ai de nós se não nos emocionarmos.

Seguir à risca a totalidade das instruções que elas nos passam para sermos felizes,
 inclusive tomar leite morno, jamais, repito!, jamais deixar de dizer obrigado e, se um de nós, por descuido,
não baixar a tampa da privada, imediatamente nos comunique, para pedirmos,
em nossas cinco ou seis orações diárias, clemência e perdão, sentimentos que, segundo elas,
muito nos dignificam, ao imprudente descuidado.

Saber perdoar e jamais ter inveja, duas qualidades sem as quais nada valeremos, para elas.

Temos de ser sensíveis e inteligentes e isto significa, na linguagem feminina,
que nunca façamos com que elas tenham ciúmes das outras e nós devemos ter ciúmes de todos.

Por fim, homens, sugiro que enfrentemos a adversidade com bom-humor,
pois a tristeza não leva a lugar nenhum.
Sejamos corajosos e aceitemos nossas fragilidades, porque a maior ignorância não é
não saber e sim pensar que sabemos.



Tel. (51) 3227.2500
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http://paulowainberg.wordpress.com

Última atualização em Seg, 09 de Julho de 2012 11:09
 

Luar Duvidoso



Ao entardecer de domingo, estava olhando o movimento na rua, da porta da minha casa, quando um clarão me surpreendeu.

Entre o tronco do coqueiro e o telhado da casa em frente, uma lua cheia absurda assumiu.

Fixei os olhos nela e, lentamente,  suas manchas formaram um rosto perfeito, olhos bem abertos, sobrancelhas, nariz e boca.

Surpreendeu-me a expressão da lua, olhando aqui para a Terra. O olhar tinha uma perplexidade entristecida, reforçada por um rictus amargo da boca. A lua nos olhava com definida tristeza, como se estivesse compadecida e surpresa com o que estava vendo.

Ela foi subindo e eu, inclinando a cabeça, acompanhei o movimento, até que ela, já pequena, ocupando seu lugar no espaço, foi interrompida por nuvens esfarrapadas que deformaram seu rosto.

Parei de olhar porque meu pescoço já estava doendo, e acendi outro cigarro, o verdadeiro motivo de minha ida para a rua, porque ambiente com cheiro de cigarro não é saudável para Luiza, minha netinha.

Não foi difícil encontrar razões para tão compungido olhar de tristeza que o rosto da lua expressava, apesar de tanta luminosidade e esforço para embelezar o céu.

Eu mesmo, se fosse a lua, ao olhar para nosso planeta não teria outra expressão, muito menos outro sentimento. Guerras, fome, miséria, desperdícios, corrupções, dor, morte, sofrimento, sobejam entre nós, perpassam nossos engarrafamentos, tsunamizam nossas cidades, terramoteiam nossos edifícios, flagelam nossa humanidade.

Reconheço que o olhar da lua, tratando-se ela de um astro apendicite, sem coração e sem sentimentos, teria mesmo de ignorar nossas felicidades, nossos bem-estares, nossos paraísos tropicais, nossas águas tépidas das piscinas e nossas brincadeiras familiares.

Seria pedir muito à ela, uma mera lua cheia.

Natural que ela se compadeça das tragédias de matérias semelhantes aos dela, terra, metal, solidão sideral e, quem sabe?, um pouco de saudades dos tempos em que ela e a terra formavam um único bólido.

Entretanto, devo dizer, havia um pouco mais do que isto no olhar triste da lua. O quê, não sei dizer, mas é como se ela soubesse de alguma coisa que não sabemos, aquele olhar me lembrou o olhar que damos a um ser querido, cuja morte iminente vai acontecer sem que ele saiba, mesmo que pressinta.

O mesmo olhar piedoso e triste que depositamos no ser querido, doente terminal, nos seus derradeiros instantes.

É curioso. Há anos observo a lua e com ela me encanto quando está plena, minguante ou crescente. Já, com telescópio, percorri sua superfície, distinguindo crateras cujas manchas, afinal, é que formam as faces de seu rosto.

Nunca, antes, percebi tal expressão. O que mais me impressionou foi a boca, curvada nos cantos, levemente e para baixo, imitando a máscara da tragédia simbolizando o teatro.

Decidi, para meu conforto e consolo, que alguma alteração na superfície da lua provocou aquele efeito. Ou então, porque assim somos nós, uns dias mais reflexivos do que em outros, naquele momento eu estava particularmente sensível às coisas, muito mais do que a mim mesmo.

Para tirar as dúvidas sobre minha ilusão, ontem postei-me, na mesma hora e no mesmo lugar, esperando que ela surgisse já diferente, já sem aquele olhar e aquele rictus.

E ela surgiu igual. Sem tirar nem por.

E foi-se, noite a fora, despejando sobre mim, sobre nós, sua perplexa tristeza.

Ou ela foi sempre assim e eu nunca me dei conta, ou a lua sabe de alto sobre nós, que nós ainda não sabemos.
 

Chato do Cotidiano




OS CHATOS, UMA POÉTICA

Os chatos existem e atuam em áreas específicas que esta coluna, intransigentemente voltada à difusão cultural e ao preciosismo inútil, faz questão de classificar.


CHATO DO COTIDIANO

O chato do cotidiano ataca quando você menos espera, distraído que está tomando seu uísque numa festa de casamento. Ele surge ao seu lado:

– Você leu o jornal, hoje?

– Li, sim.

– Que coisa impressionante, aquele negócio na Cracóvia!

– Qual negócio?

– Você não leu o jornal?

– Li.

– Então, está lá, foi publicado.

– Tá, mas essa parte eu não li. O que é que houve na Cracóvia, afinal?

– Os carros, cara, os carros. Os carros lá só tem câmbio manual. Não tem um único carro com câmbio automático. Não é uma loucuuuuura?

Nessa hora, para sua sorte, passa o garçom e você pede outro uísque, toma um longo gole, suspira e diz:

– Pobres Cracóvios...

– Não dá para entender! Aliás ontem, por acaso, assisti na televisão...

E quando você já está bêbado o chato continua contando o que leu na revista Veja de 1986, sobre a incidência de piolhos albinos nas tribos africanas de Zumbabum e Muzambumbum.

O chato do cotidiano está sempre  a postos e prestes a atacar o incauto, com sua imensurável quantidade de informações que não interessam a absolutamente ninguém.

O CHATO INTELECTUAL

Esta é uma espécie do gênero Chato que é encontrável em exposições, vernissages, saraus literários e qualquer evento minimamente relacionado com a cultura.

Ele é um soberbo depositário de erudição e, sua principal característica é olhar para você de cima para baixo, com uma certa indulgência na voz, como se você fosse uma criança para quem tudo deve ser explicado:

– Tarsila, ah, Tarsila, diz o chato.

– Quem?

– Tarsila do Amaral, musa do Oswald.

– Quem? Oswald de Andrade, você não conhece? O ícone da Semana de Arte Moderna de 1922.

– Ah.

– Durante essa convivência, Tarsila atingiu o sublime, foi sua fase Pau Brasil, sabia?

– Ahã.

– Foi quando ela pintou Abaporu, sua obra prima.

– Sei.

– Foi muito estimulada por Cendrars.

– Quem?

– Blaise Cendrars, poema suíço...

– Com licença? Preciso ir ali cumprimentar um amigo.

O chato intelectual não se abala, olha ao seu redor e logo identifica outra vítima, de quem se aproxima a destilar cultura de folhetim.

O CHATO CITADOR

O chato citador possui duas características essenciais: ele cita e cutuca. Em algumas classificações, menos científicas do que a nossa, ele é também denominado de chato cutucador. Essas publicações feitas às pressas, sem pesquisa e sem rigor performático são, por nós, absolutamente ignoradas pois é isto que merecem.

Ao ver desta Coluna, o chato citador é o pior de todos, porque ele surge em qualquer lugar, na hora do cafezinho, dentro do ônibus, no jogo de futebol e principalmente nos supermercados e shoppings, em geral quando você está carregado de embrulhos ou quando acabou de encontrar uma vaga no estacionamento, louco de pressa.

– Bom dia, meu caro, como diria Victor Hugo.

– Bom dia.

O chato citador já se aproximou e está prestes a utilizar sua segunda característica, o dedo indicador em riste vindo em direção ao seu braço, na parte carnuda.

– Veio às compras? Isto me lembra Rochelle em Cyranô: C’est bon achetter.

– É, preciso comprar uns equipamentos eletrônicos para o meu filho e...

Sei, o consumo, o consumo e o trabalho, o trabalho e lucro, como alertou Marx no Capital.

Neste momento ele está parado em sua frente, bloqueando a passagem, e a cada final de frase, cutuca seu braço, no mesmo lugar.

– De onde nos conhecemos mesmo?

– Você não lembra? Foi no noivado da Clarinha com o Haroldo, sentamos lado a lado, como na peça de Fredorovsky.

– Isso, isso mesmo! Agora lembrei. Naquela noite você declamou...

– IF, de Kiplling.

– Exato.

Você vira de lado, para escapar da cutucada. Seu braço já está doendo. Mas ele acompanha o movimento e, subitamente, pega o colarinho de sua camisa, entre o polegar e o indicador da outra mão, esfrega para sentir o tecido e:

– Poliester, hein?

– Não, não, é tricoline.

– Ah, os tempos da tricoline. Por acaso você assistiu Gleese no Tempo da Brilhantina?

– Não lembro.

– Uma referência histriônica à Fitzgerald, Scott é claro. Naquele filme me senti como um ferreiro sujo de Verne.

– Tudo bem, meu amigo, mas agora preciso ir – você diz esfregando o braço no ponto cutucado.

– You must go? Mas é tão cedo! Fique mais um pouco, como implorou Beauvoir ao seu último amante.

E aí você se vinga:

– Não, é tarde, é tarde, como diz a Traviata.

Estes são, para a Coluna, os três chatos típicos principais, dos quais derivam incontáveis variações que você pode, sozinho, imaginar.

Se por acaso, caro leitor, doce leitora, você estiver incluído numa das classificações acima, não se desespere, afinal os chatos também amam e muitos tem bom coração.

E, como prova disto, você pode se afastar, toda vez que me ver por perto.

 

Paulo Wainberg

 

Aborto



Desde o surgimento da pílula anticoncepcional e outras proteções femininas, a mulher adquiriu o direito personalíssimo e exclusivo de decidir sobre a gravidez.
É dela, unicamente dela, a opção de engravidar ou não e nenhuma lei, código, imperativo ético ou religioso pode retirar-lhe o exercício desse direito.

Aliás, esse sempre foi um direito exclusivo das mulheres que, entretanto, por força dos costumes e do poder das religiões, submetiam-se com docilidade às exigências masculinas e, pelo efeito da conhecida aceitação tácita que o conformismo gera, acumulavam filhos, não por ser um direito e sim por ser uma obrigação.

Felizmente, graças à ciência e à consciência, isto mudou.

Hoje, mulheres engravidam quando querem e só quando querem.

Entretanto, falhas existem, exceções acontecem, muitas vezes a gravidez é resultado da paixão, outras vezes, e isto ocorre nas camadas mais desprotegidas da população, pela ignorância, e na maioria dos casos, por defeito dos materiais protetores.

Falo da gravidez não desejada.

E é por isto que sou a favor do aborto, ou da interrupção da gravidez não desejada.

O Código Penal Brasileiro, autoriza o aborto, isto é, descriminaliza o aborto em duas situações bem definidas: Quando a gravidez e o parto podem por em risco a vida da gestante e quando a gravidez é decorrente de estupro.

No primeiro caso, mesmo se tratando de ser vivo (o feto), protege-se a mulher, a gestante. No segundo caso, mesmo se tratando de ser vivo (o feto), protege-se a dignidade da gestante.

Isto significa que, do ponto de vista legal, a vida e a dignidade da gestante são prioritárias em relação ao feto, o futuro nenê. Nestes casos, a gestante pode interromper a gestação sem, do ponto de vista penal, cometer o crime de aborto.

Mas, e quando a gravidez não foi desejada? Quando a mulher não quer um filho, não pretende procriar, naquele momento ou nunca?

A questão que coloco é: Por que a vida e a honra da gestante prevalecem sobre o feto e o desejo da mulher não? Porque se ela interromper a gestação apenas porque não pretende ter um filho, cometerá, segundo a lei, o crime de aborto.

Recentemente o Supremo Tribunal Federal, numa decisão dividida, autorizou a gestante de um feto anencefálico a interromper a gravidez.

Por que? A quem a maior corte do País quis proteger, à mãe ou ao feto?

Na minha opinião, a nenhum dos dois. O Supremo Tribunal Federal quis proteger a si mesmo, na sua estreiteza de pensamento e na sua subserviência política.

Mas não importa, por isto ou por aquilo, fez justiça. Cabe à mãe optar por interromper ou não essa gravidez.

Assim como cabe à mãe interromper qualquer gravidez.

Não aceito que o aborto seja um crime, aqui e em nenhum lugar do mundo.

É tema de absoluto foro íntimo da gestante, ter ou não um filho.

Ela que decida, livremente, de acordo com seus desejos pessoas e suas circunstâncias pessoais de vida.

Se, como dizem as religiões, isto for pecado, ela que peque, se quiser. Não será o primeiro nem o último dos pecados que qualquer ser humano pratica na sua vida.

Quem acreditar nisso, aja de acordo.

Mas que não se imponha, de cima para baixo, de fora para dentro, aquilo que só à mulher compete decidir.

Paulo Wainberg

Última atualização em Qua, 18 de Abril de 2012 15:00
 

Aperte o botão



Tenho lido em vários almanaques e revistas de curiosidades, que a Humanidade ainda não encontrou a resposta definitiva para a origem da eletricidade.

Uns atribuem a isto, outros atribuem àquilo e ninguém chega à conclusão definitiva.

Para quem não sabe, esta coluna e este colunista não sossegam diante dos mistérios e dos enigmas, até solucioná-los. Foi assim quando descobrimos o que acontece quando jogamos uma barra de gelo dentro de uma fogueira, se o gelo derrete antes ou o fogo apaga antes. Ou então quando, para manter o equilíbrio da dicotomia, inventamos o Alzheimer seletivo, em oposição à memória seletiva. A questão é de simples compreensão: Graças à memória seletiva, você só lembra daquilo que quer. E graças ao Alzheimer seletivo, você só esquece aquilo que quer.

Perfeito equilíbrio de forças, portanto.

E assim tem sido nossa saga, em busca de soluções para problemas definitivos, questões dramáticas e interrogações sem resposta.

Antes de apresentarmos nossa nova descoberta, é importante uma reflexão nada fútil sobre o que seria da Humanidade, sem eletricidade. Imagine, caro leitor, estimada leitora, o que nos aconteceria se, amanhã de manhã, ao acordar, não houvesse eletricidade no mundo.

Como você iria tostar suas torradas? Seu chuveiro elétrico despejaria água gelada, com todo esse frio. Você teria que empurrar o carro para levar as crianças à escola. Aviões não decolariam, elevadores não subiriam, luz de cabeceira nem pensar e, o que é pior, seu computador estaria morto para sempre.

Nem telefone, nem telegrama e, ó tragédia, nada de facebook. E necas de televisão, fim das novelas, secadores de cabelo, iluminação afrodisíaca em motéis, lavadora, vibradores e controle remoto.

Voltaríamos às cavernas?

Não creio, mas teríamos que alterar o plano diretor das cidades, edifícios com mais de dois andares seriam proibidos e, nas praças, nenhum bebedouro para depois da corrida.

Percebam, atentos leitores do Acontece Coritiba, como o fenômeno elétrico é fundamental para o nosso way of life atual. Felizmente isto jamais acontecerá, a hipótese não passa de um sonho ruim, um pesadelo em vida, porque, após nossa investigação, todos saberão como produzir eletricidade para tudo o que for necessário.

Aí vai a revelação: A eletricidade tem início no exato momento em que, com um dedo, apertamos o empurramos o interruptor, uma pequena peça de plástico que fica bem à vista, nas paredes.

Vá até ele, se for de apertar aperte, se for de empurrar, empurre, e verá que, no mesmo momento faz-se a luz e a eletricidade surge.

Não perca mais tempo se angustiando com esse problema porque esse problema está solucionado. Quer eletricidade? Aperte o botão.
 
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