O café do futuro

Entrou no Le Dernier Café Avant Le Fin du Monde, na Avenue Victoria, em Paris.
Levado pela curiosidade, porque o nome do bar lembrava, claramente, os romances de Douglas Adamas, O Guia do Mochileiro das Galáxias, O Restaurante do Fim do Mundo e outros.
E também porque, na fachada, o bar indicava, entre outras atrações, um abrigo contra zumbis.
O bar era temático, não tanto quanto parecia do lado de fora, mais um café parisiense, lotado de jovens que, como se obedecessem a um comando superior, de repente saíam de suas mesas, deixando sobre elas bolsas, celulares e outras coisas, e iam fumar na rua.
Caminhou entre as mesas e, nos fundos do bar, emoldurada por lâmpadas sequenciais brancas que acendiam e apagavam, uma porta fechada chamou sua atenção porque nela, numa plaqueta como se anunciasse um detetive particular, estava anunciado: Machine du Temp. Entré sous votre responsabilité.
Sem hesitar, abriu a porta e entrou. Viu-se numa pequena sala dominada pela estátua do que parecia ser Saturno, aprisionado por seus anéis.
A estátua abriu a boca e falou:
-  Je suis Chronos, le dieu du temp. Pour quelle époque voulez-vous voyager?
Antes de poder responder, viu-se diante do bar, na calçada. Mal conseguiu se assustar porque, em seguida viu-se entrando no bar, exatamente como fizera minutos antes. E, poucos segundos depois, viu que ao seu lado estava ele, vendo um terceiro dele entrando no bar.
Entendeu que estava numa fenda do tempo, voltando sempre ao momento em que entrara no Último Café antes do Fim do Mundo e que, se não fizesse nada, estaria condenado àquele momento, recebendo a cada minuto a si mesmo, sendo remetido àquele momento e observando à si mesmo entrando no bar.
Quando seu quinto eu entrou no bar, foi atrás, entrou com ele na porta, viu seu quinto eu desaparecer e antes que a estátua de Saturno falasse, declarou:
- Je veux aller au future, 25 anées dans le future.
Mal pronunciou a frase e viu-se novamente na calçada, mas no lugar do Último Bar Antes do Fim do Mundo existia uma lanchonete com o nome Mcgrallburguers.
Olhou ao redor e viu que a placa da Avenue Victoria fora substituida por outra, onde se lia Quenn’ s Victory Avenue. Caminhou duas quadras em direção à ponte de La Île de la Cité e percebeu que ela agora se chamava City’s Island.
Parou diante de uma banca de jornais e percebeu que estava vinte e cinco anos no futuro. Percebeu também que todas as publicações expostas na banca estavam em inglês, uma única palavra em francês sequer.
O antigo Chatelet, premier arrondissement de Paris agora se chamava The Castle e, prestando atenção, notou que ninguém, em Paris, falava francês. O inglês era, agora, a língua oficial na França.
Lembrou-se do tempo em que falar inglês com um parisiense era uma ofensa quase mortal.
Pegou um táxi, última esperança francófila e pediu ao motorista, em francês, que o levasse a Monparnasse. O motorista respondeu:
- Sorry, I do not speak french.
Desesperado desceu do táxi. Estaria preso para sempre naquele tempo em que Paris se transformara num rápido e atordoante bairro americano ou inglês?
Como fazer para retornar ao passado, ao seu tempo quando o francês flutuava sobre Paris como uma melodia encantadora e imortal?
Voltou à atual Queen’s Victory Avenue e entrou na lanchonete onde, outrora, fora Le Dernier Café Avant Le Fin du Monde.
Caminhou em busca da porta dos fundos onde, agora, havia uma geladeira repleta de refrigerantes com nomes ingleses.
Sentou na banqueta, diante do bar e quando a garçonete veio atendê-lo, deu um sorriso triste e disse:
- One cheesburguer, please.
 
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