Certas coisas acontecem além do espaço, do tempo e da distância. É como estar e não estar, sentir e não sentir, permitir e proibir e… lá no fundo, no mais escondido, desejar.
Sabe-se que, às vezes, dois não são um e, às vezes, um é dois.
É sempre mais rico quando dois sentem por dois, mas também é muito rico quando um sente por dois e quando dois sentem por um.
Certas coisas acontecem quando não deviam acontecer e, honestamente, são as melhores coisas, porque se não deviam acontecer e aconteceram, tudo será novo, as emoções irão borbulhar o corpo todo, mais frágil, mais dócil, mais afeito.
As coisas que acontecem quando devem acontecer fazem parte da rotina, do cotidiano, do dia a dia, da mesmice.
Com elas estamos acostumados, sabemos lidar, elas não ameaçam, elas mantém a ordem e a repetição é simplesmente a vida em ordem.
Quando o que acontece não devia acontecer, é nascer novamente, é ver sentido na vida, é exultar e a palavra expectativa adquire outra dimensão, muito além da lógica, fazendo figa para a lógica e é quando temos coragem de jogar tudo para o alto, sair de baixo e viver o, quem sabe, grande amor, a aventura final, a paixão devastadora que tanto enriquece quanto destrói, mas faz muito mais bem do que não.
Sim, a diferença entre estar vivo e estar morto é que, vivo, certas coisas acontecem que, na morte em vida, não são permitidas.
A diferença entre estar vivo e estar morto é permitir que certas coisas aconteçam, vivê-las até as últimas consequências e depois, se for o caso, morrer em paz.