Quando Haroldo precisou usar óculos, Clarinha disse que ia com ele na ótica.
Haroldo experimentou mais de vinte modelos, Clarinha não gostou de nem um dos que ele gostou e ele não gostou de nem um dos que Clarinha gostou.
Era um homem, o vendedor, e Haroldo percebeu que ele se aliava à Clarinha, aceitando todos os comentários dela sobre os óculos que ele gostava:
Clarinha: Este nem pensar! Você ficou com cara de fuinha.
Vendedor: É, ele encolhe seu rosto.
Clarinha: Experimenta este aqui, você tem o rosto largo, os óculos não podem ser pequenos.
Haroldo experimentava e aí sim, achava que ficava com cara de fuinha.
Obviamente, acabaram comprando os óculos que Clarinha escolheu, coisa que Haroldo sabia que ia acontecer desde o momento em que saíram de casa.
O argumento final, decisivo e contra o qual ele nada pode contrapor, foi quando Clarinha falou, com sua típica voz de irritação anunciando o conflito iminente:
Clarinha: Haroldo, você está precisando de óculos porque não está enxergando direito, você está ficando cego Haroldo! Você mal vê o que está na ponta do seu nariz! Como é que você vai saber o que fica bem em você? Moço, nós vamos levar este aqui.
De volta, no carro, Haroldo falou baixinho, para Clarinha não ouvir muito, num tom de criança emburrada:
Haroldo: Se eu posso enxergar para dirigir…
Clarinha: Chega, Haroldo!