As participações que Rodrigo Santoro tem feito em grandes produções do cinema americano, como “300” (2007), “Che” (2008) e “Cinturão vermelho” (2008), ainda não lhe renderam fortuna. Quem garante é o próprio ator, que na noite de terça-feira (3) participou de um debate sobre “I love you Phillip Morris”, comédia gay de John Requa e Glenn Ficarra, na qual o brasileiro interpreta o namorado de Jim Carrey.

“Nunca trabalhei guiado pelo dinheiro. Se meu objetivo fosse só ele, teria dado com a cara na porta em Hollywood”, respondeu o ator, ao ser questionado sobre os cachês pagos pelo cinema dos Estados Unidos. “Se é em Hollywood que está o dinheiro, eu ainda não vi a cor, nem o cheiro dele”.

Santoro relembrou ainda o início de sua trajetória internacional, em 2003, no filme para a TV americana “The roman spring of Mrs. Stone”, no qual atuou ao lado de Helen Mirren e Anne Bancroft.

“Quando fui lançar ‘Abril despedaçado’ [2001] em Los Angeles, um agente me abordou, mas nem levei a sério, era algo muito distante. Mas aí uma produtora me ligou no dia seguinte para fazer o convite”, explicou. “Foi tudo muito natural, nunca projetei uma carreira em Hollywood. Minha carreira, aliás, é uma só, não tem essa de nacional e internacional. Minha casa fica aqui no Brasil”.

E será no país que o ator fará seu próximo filme, “Heleno”, de José Henrique Fonseca, no qual interpretará o polêmico craque do futebol Heleno de Freitas (1920-1959). “Depois de muitas reuniões, cafezinhos e tapinhas nas costas conseguimos captar recursos para as filmagens. Vamos começar a rodar no primeiro semestre”, revelou o ator. “Aprendi que cinema é a arte da demora: para captar recursos, produzir, filmar, editar, pós-produzir... E isso é assim no Brasil, em Hollywood e em qualquer lugar do mundo”.

Cenas cortadas

Durante o debate sobre “I love you Phillip Morris”, o ator também comentou o fato de algumas de suas cenas no longa terem sido cortadas. No último domingo (1), o diretor Glenn Ficarra declarou que excluiu sequências quentes do brasileiro com Jim Carrey, para evitar que elas colocassem em segundo plano o romance do casal principal do filme, Steven Russel (Carrey) e Phillip Morris (Ewan McGregor).

“Houve um exagero nessa história toda, porque na verdade foram editadas duas cenas. Uma era de beijo e a outra era muito forte, mostrava meu personagem todo machucado, em função de uma doença”, ressaltou. “Os diretores carinhosamente me ligaram para explicar que excluiriam essas passagens, porque poderiam ofuscar a história principal do filme. Na verdade, considerei esses cortes terem acontecido como um elogio!”.

Em “I love you Phillip Morris”, Santoro interpreta Jimmy, o primeiro namorado do personagem de Carrey. A produção é inspirada na saga real do americano Steven Jay Russell, um golpista homossexual que chegou a atuar como advogado e gerente financeiro de uma grande corporação, além de ser dono de um talento todo especial para escapar da polícia.

Em uma de suas várias prisões, Russell encontrou o amor de sua vida, Phillip Morris. O romance cheio de idas e vindas é narrado em “I love you Phillip Morris: a true story of life, love, and prison breaks”, de Steve McVicker, livro-reportagem no qual se baseia o roteiro do longa.

“Primeiro li o livro e depois o roteiro, que é extremamente fiel à história”, conta Santoro. “Trabalhar com Jim foi muito bacana. É um ator inteligente, que gosta do improviso”.

A comédia, que estreia em circuito em abril de 2010, ainda terá mais duas sessões na Mostra. Considerada uma produção independente – uma companhia francesa financiou as filmagens – o longa foi elogiado pela crítica em suas passagens pelos festivais de Sundance e Cannes.