Politica Nacional por Berto Filho


Aqui vão alguns escritos de 2006, quando estava narrando matérias para o Fantástico e sugerindo pautas.  Creio que ainda estão no prazo de validade se levarmos em conta a relação dos fatos da época com o julgamento do mensalão, o caso Rosemary - ainda contido pelo hiato de fim de ano - e possíveis novas revelações sobre corrupção extraídas das profundezas do pré-sal do poder pelo jornalismo investigativo, abastecido por arapongas e depoimentos por delação premiável  - uma tentação para qualquer preso condenado a penar alguns anos no xilindró. A corrupção na era FHC me pareceu mais elegante, discreta, esculpida com competência por profissionais do complexo submundo financeiro.   A de Lula para cá tem um certo tom de deslumbramento descuidado e subúrbia - com todo o respeito pela periferia...

Só agora resolvi soltar aos poucos as minhas opiniões e conceitos, croniquetas do vulgar cotidiano, que gostaria de dividir com vocês, ou, pelo menos, com quem responder este primeiro e-mail, nessa véspera do reveillon de 2012, momento de festa, fogos, abraços e esperanças.

 

O mundo não acabou, a vida continua e estou me convencendo de que não devo  aprisionar, egoisticamente, na cela da minha mente, observações sobre as atualidades pois todos somos atingidos, direta ou indiretamente, com maior ou menor gravidade,  por essas "balas perdidas".

 

Se você gostar e quiser continuar recebendo, reproduzir ou dar um toque, entre em contato.

 

Sua resposta me dará coragem para meter o nariz onde não  sou chamado.

 

Boa diversão.

 

Berto Filho

 

Flash back... volte 6 anos ...

Sábado,  23 de setembro de 2006

Minhas observações sobre o “Dossiegate” e seus possíveis desdobramentos

Por favor, não sou lulista, não prego a santidade papal de seu governo. Pelo contrário, vejo nele o cara que sabia e sabe de tudo, que tomou gosto pelo poder, que acabou entrando no jogo sujo de compra de votos e armações para manter o poder (o mensalão) inspirando-se no espelho retrovisor.

Lula, malabarista, contorcionista, está sendo safo para manter-se – para o seu povão e aquela parte da classe média que aprecia a vitória dos que vêm de baixo -  puro e imaculado em pleno esgoto dos escândalos federais. Seus eleitores fiéis de sempre e os novos de 2002, além de não acreditarem  que ele sabia e de justificarem a sua atitude de “paizão” condescendente com as travessuras dos “meninos”,  como quem admira o heroísmo do Robin Hood de plantão, querem ser gratos pela redução da pobreza (Bolsa Família), aumento real do salário mínimo, controle da inflação, etc, embora funcionem como biombo para “esconder” (somente para esses eleitores) o lixo da altíssima carga tributária e dos juros recordistas que transformam o Brasil no paraíso fiscal dos banqueiros agiotas.

Para mim, depois de ler os mais recentes relatos da imprensa, o PT e seus trapalhões foram muito mais longe que Lula poderia imaginar, na pressa de mostrar serviço – o chefe sabendo ou não sabendo. No dossiegate, o serviço de “inteligência” do partido parece que entrou de gaiato no navio do Serra.  Tentaram levar vantagem negociando com bandidos (os Vedoin) – fato, aliás, muito bem aproveitado por Lula em sua retórica eleitoral - que já estavam negociando a mesma mercadoria com o Abel Pereira, em quem os holofotes da mídia vão mirar a partir das revelações da IstoÉ que está nas bancas.

E  o resultado disse pode ser, paradoxalmente, a confirmação da vitória de Lula no 1º turno e o maior acirramento da disputa em São Paulo, sobrando para o Serra.  Há muitos eleitores que ainda não entenderam direito esse dossiegate mas ainda há tempo para eles o decifrarem antes de 3 de outubro, escaneando os argumentos dos 2 lados.

O pecado do Freud e dos 4 ou 5 patetas da trapalhada é que eles caíram no conto dos Vedoin, esses caras que simulam (ou acreditam) ter a República na mão presa a uma montanha de cheques passados a destinatários acima de qualquer suspeita. Que fogem como ratos quando chega o gato da PF ...

Sou dos gostariam que política se fizesse com bom senso, que os políticos se comportassem sincera e honestamente como servidores do povo e não como gansters, principalmente quando comandam cargos no executivo.  Mas, admito, não tem santo em política, com algumas exceções, entre elas Jefferson Peres, que me passa a imagem de anjo num bordel.

Antes de pôr o dedo na ferida do dossiegate, permita-me abrir a janela do passado recente.

Ainda estão frescas  em minha memória as denúncias de escândalos no governo FHC :

Eduardo Jorge, o José Dirceu de FH,  e o seu envolvimento nas liberações de verbas para a construção do prédio do TRT de São Paulo (R$ 169 milhões), o compadrio do juiz Nicolau com Romeu Tuma,  o Ricardo Sérgio ...

Escândalos desde 94

Pelo menos quatro grandes escândalos abalaram o governo Fernando Henrique no 1º mandato. A implantação do Sistema de Vigilância da Amazônia foi o primeiro. Dispensado de licitação devido à "segurança nacional", o Sivam teve como finalistas, em 94, a americana Raytheon e a francesa Thonsom (atual Thales), numa seleção com regras próprias da Aeronáutica. O contrato de US$ 1,4 bilhão foi conquistado pela Raytheon, em meio a denúncias de suborno de autoridades públicas, tráfico de influência do chefe de Cerimonial do Planalto, Júlio Cesar dos Santos, que teve telefones grampeados, e à exclusão da empresa que gerenciava o projeto, a Esca, por fraudes à Previdência. Júlio Cesar e o ministro da Aeronáutica, Mauro Gandra, foram demitidos.

Telefones grampeados detonaram o 2° escândalo, o da compra de votos para aprovar a reeleição, em 97. O ministro Sérgio Motta comandava a operação. Dois parlamentares, os deputados João Maia e Ronivon Santiago, confessaram em ligações ter recebido R$ 200 mil para votar a favor da reeleição.

No fim de 98, novas escutas clandestinas provocam crise. Conversas do ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, grampeadas no BNDES, inclusive com o presidente Fernando Henrique, dão indícios de que o governo tentava favorecer o consórcio liderado pelo Opportunity na privatização da Tele Norte Leste, afinal adquirida pela Telemar. Mendonça de Barros caiu.

Em janeiro de 1999, na mudança do regime cambial, o Banco Central vendeu dólares com cotações mais baratas aos bancos Marka e FonteCindam. O presidente do BC, Francisco Lopes, perdeu o cargo e chegou a ser preso.

Ricardo Sérgio

O economista Ricardo Sérgio de Oliveira, 55 anos, trabalhou 17 anos no Crefisul/Citibank, no qual foi diretor em NY.  Deixou o cargo para retornar ao Brasil e criar a RMC Sociedade Corretora, em 1989. Ligou-se a Serra e tornou-se Diretor Internacional do BB em 95.

Era apontado como o homem que comandara a campanha de Serra em São Paulo.  Durante sua gestão priorizou os empréstimos do Proex e tornou-se eminência parda da Previ (ler em “Telemar”). Montou o consórcio Telemar, causa de sua derrubada do cargo em 98. O caso Encol também lhe rendeu uma denúncia do MPF em 99, fora apontado como um dos diretores do BB que assinara autorização de empréstimos à Encol quando esta já se encontrava em processo falimentar.

As operações causaram um rombo de R$ 500 milhões no BB. Na RMC, para onde voltou depois de demitido do BB, é sócio de Henrique Molinari (que trabalhou no Citibank por 14 anos) e Ricci Associados Engenharia e Comércio, mas seu nome não aparece na base de dados para consulta da CVM.

Telemar

Segundo ACM, Ricardo teria recebido de Carlos Jereissati, dono do grupo La Fonte, sócio da Telemar, comissão de R$ 90 milhões (3,4% do capital total do consórcio, estimado em R$ 2,7 bilhões)  para formar o consórcio Telemar, que arrematou a TNL. Ricardo desmentiu ACM no dia 6 de março de 2001.  A Previ teve papel fundamental no intrincado enredo que sustentou a privatização das telecomunicações (venda das 12 holdings do sistema Telebrás, em julho de 98), um negócio de R$ 22,057 bilhões de arrecadação total.  4 meses depois, Ricardo aparece nas gravações dos grampos do BNDES : uma tentativa do governo de intervir na formação dos consórcios e no resultado do leilão.

Luiz Carlos Mendonça de Barros queria que a Previ montasse um consórcio com o Banco Opportunity para disputar a TNL, pois achava que o grupo de empresários do consórcio Telemar (vencedor) era uma telegangue, e não tinha nenhuma parceiro especialista no ramo.

Apesar disso, o ministro pediu que Ricardo concedesse a carta de fiança que garantiria a participação da “telegangue” no leilão. De acordo com as gravações, Ricardo concordou e acabou proferindo a frase que se tornou símbolo do escândalo ao admitir o risco do que estavam fazendo, no seguinte diálogo com Mendonça :

RS  -  Dei R$ 874 milhões para a Telemar.

MB – Tá perfeito.

RS – O BB está financiando tudo.

MB – Eu sei, meu filho. Conto com você.

RS – (rindo) Nós estamos no limite da nossa irresponsabilidade.

Ricardo não obedeceu a ordem. Amigo pessoal de Jereissati, levou os milhões da Previ para o consórcio que ele formou com AG, Inepar, Macal, etc.  O consórcio Telemar acabou vencendo com um único lance, ágio de 1%... Pelas regras, as propostas eram entregues em bloco e quem ganhasse uma empresa era retirado das disputas seguintes.

A primeira a ser vendida foi a Telesp, arrematada pela Telefónica, que, por isso, saiu da disputa pela TCS.  O Opportunity esperava que a Telefónica ficasse com essa região (centro sul) e, junto com a Telecom Itália, deu um lance modesto sem intenção de vencer. Mas, com a Telefónica fora, ganhou e não pôde participar do leilão da TNL, área que o banco queria mesmo.  Em 99, o Opportunity  conseguiu finalmente seu quinhão na Telemar, ao adquirir debêntures conversíveis em ações da Lexpart, empresa criada pela Inepar, que detinha 11,275% do capital da Holding.

Embora inocentado pela Justiça, Eduardo Jorge continua com baton na cueca.

Acabo de ler reportagem da IstoÉ, do Alan Rodrigues, Mário Simas Filho e Rodrigo Rangel,  “O misterioso Abel”, que revela que as máfias dos sanguessugas, vampiros & ambulâncias nadavam de braçada na  gestão de Serra.

Como o tesoureiro Delúbio Soares e o publicitário Marcos Valério, as pontas principais do escândalo do mensalão, o  empresário Abel Pereira (cujas empresas estão ganhando tudo na administração do atual prefeito de Piracicaba, Barjas Negri) agia nas sombras em Brasília, em parceria com o então secretário geral do MS, Barjas Negri, homem  de confiança absoluta do  Serra.  Nada contra o Serra mas por que ele nada fez quando soube que havia um esquema na venda superfaturada de bolsas de sangue, espermicidas e ambulâncias ?

A IstoÉ faz 10 perguntinhas corrosivas ao staff do Serra.

1 Na gestão de José Serra no Ministério da Saúde, qual foi o preço final de cada ambulância comprada pelo governo por meio da Planam?

2 As gestões de Serra e seu sucessor Barjas Negri liberaram verbas para a compra de 681 ambulâncias entre 2000 e 2002 – 70% do total de 891 comercializadas pela Planam com o Ministério entre 2000 e 2004. Qual foi o critério para liberar essas compras num período tão curto?

3 Quais foram as providências do ministro José Serra para descobrir concorrentes da Planam a fim de pressionar para baixo os preços das ambulâncias?

4 O empresário Luiz Antônio Vedoin afirma que o esquema de propinas em torno da comercialização de ambulâncias “era nítido a todos”. Por que os ministros Serra e Barjas não acionaram nenhuma vez os mecanismos de fiscalização do Ministério da Saúde para checar o emprego dos recursos públicos?

5 Houve privilégio às emendas orçamentárias de deputados do PSDB no processo de escolha do destino das ambulâncias?

6 Acusado pelos Vedoin de cobrar 6,5% de comissão para facilitar compras de ambulâncias da Planam para o Ministério da Saúde, por que o empresário Abel Pereira não foi chamado a depor no inquérito que apura as ações da máfia das ambulâncias?

7 Por que o empresário Abel Pereira tinha trânsito livre no Ministério da Saúde mesmo sem ser funcionário da pasta?

8 Por que Abel Pereira recebeu 15 cheques da Klass, uma empresa do grupo Planam, durante o processo de entrega de ambulâncias patrocinado na gestão do ministro Barjas Negri?

9 Qual o destino final dos pagamentos de R$ 601 mil feitos pela Planam a empresas e pessoas indicadas por Abel Pereira?

10 Quem são os verdadeiros donos das empresas Kanguru, Império e Datamicro, beneficiadas com cheques do grupo Planam?

 

Certa vez respondi assim à pergunta do site Terra :

Você concorda com Lula que disse : “ Rico gosta de miséria. Pobre gosta de luxo” ?

Discordo da 1a. parte : creio que rico não gosta de miséria, principalmente perto de  casa, atrapalha o visual...o rico é indiferente à miséria, tanto faz, ele viaja, faz compras em Paris e não vê miséria, só a caminho do aeroporto, e, mesmo assim, de longe, atrás da janela do carro blindado e no ar condicionado.

 

Lula deveria ter dado o crédito autoral ao Joãozinho 30 pela frase " pobre gosta de luxo". Gosta mesmo e se ganhar a mega sena sozinho vai se empanturrar de luxo e consumo desenfreado, provavelmente de gosto duvidoso.

 

A educação é diretamente proporcional ao bom gosto, ninguém precisa ficar rico para ter bom gosto.

Basta se educar, de preferência na escola pública de primeiro mundo, sonho de consumo - de realização ainda distante - da nossa sofrida sociedade, sangrada pela escola particular (a faixa que pode pagar), cara mas boa de ensino, pelos planos de saúde - mais caros e dolorosos para idosos e aposentados -, por impostos bilionários, crediários com prestações a perder de vista e outros tipos de vampirismo, explícito ou mascarado, público e/ou privado.

 

Pobre de bom gosto é luxo só.

A Daspu deu um tapa com luva de pano de chão na Daslu, não é ?

 

Berto Filho

Última atualização em Qua, 02 de Janeiro de 2013 07:48  
Copyright © 2011 Acontece Curitiba. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por LinkWell.