Os ingredientes básicos de uma história de amor:

Duas pessoas.

Afinidades.

Saber falar.

Saber ouvir.

Um começo.

Meu personagem não tem nome. Ele não é você, mas talvez já tenha sido.

Talvez você queira ser ele.

Mas veja só que perda de tempo, enquanto estamos aqui discutindo coisas das quais ele jamais saberá, ele segue caminhando por uma rua feita de nuvens.

Vamos.

Vamos segui-lo, ou a história não começa.

* * *

Eu não sei como esta história de amor terminou, mas sei como foi o começo.

O pior possível.

“Ele atropelou ela”.

E se você está pensando que disse isso no sentido metafórico, engana-se.

O acidente que mudaria a vida deles para sempre deu-se em pouco mais de cinco segundos.

Assim:

Ele estava atrasado. Tinha reunião. Que se dane o amarelo do semáforo. Amarelo não é vermelho, e de qualquer forma, o risco maior seria para ele.

Não foi.

- Você está bem? – perguntou ele aflito. Abaixo dele, uma jovem com olhos assustados (e lindos, ele não pôde deixar de notar) e joelho sangrando fez que sim com a cabeça.

A sorte dela:

Não era carro, era bicicleta.

A sorte dele:

Encontrar um grande amor.

Ele a acompanhou até o pronto socorro e depois a levou para casa de táxi. Perdera a reunião, mas deu de ombros. Azar no jogo, sorte no...

Ele pegou o telefone dela (“você sabe, para o caso de você precisar de qualquer coisa, vou te deixar o meu também”)...desnecessário dizer que ligou no dia seguinte... mas essencial contar que eles ficaram juntos por muitos anos.

Amor de verdade vem de onde você menos espera.

O deles, começou com um atropelamento.

Lindo, não?

* * *

A rua feita de nuvens.

Para qualquer transeunte era só uma rua acinzentada e cheia de neblina.

Não para ele.

Foi ali que ele a viu pela primeira vez.

“Amarelo não é vermelho”.

“Você está bem?”.

Olhos lindos e assustados. Joelho sangrando. Coração batendo. Amor.

Amor de verdade.

E acabou.

Eu disse, eu não sei como a história deles acabou. Tive a delicadeza de não perguntar...mas além disso, quem é que consegue traduzir o amor em palavras?

Posso dizer que eles se amavam.

Sim, isso eu posso.

Mas naturalmente o amor também se acaba, como tudo acaba nesta vida.

Ele continua seguindo pela rua feita de nuvens. Pensando nela. Um dia, as nuvens irão embora.

Então vamos.

Porque só o amor te faz voar com os pés no chão.