Tchau

Sexta à noite no clube dos solitários. Ele aproxima-se dela. Conversam por
um tempo, flertam, bebem uns drinques e se dão conta de que ainda não se
apresentaram.
- Mariana.
- Tchau.


- Já vai embora?
- Não, você não entendeu. Meu nome é Tchau.
- Nãooooooo...
- Juro.
- Mas que tipo de pais dão um nome deste para o filho?
- Sei lá, vai saber.
- Você não conheceu seus pais?
- Estes são os nomes deles. Meu pai se chama Sei Lá, minha mãe se chama Vai
Saber.
- E por quê?
- Porque era meu avô. Porque de Alcântara Pinto.
- Então você se chama...Tchau de Alcântara Pinto?
- Não. Só Tchau de Alcântara.
- E o pinto?
- Sei lá.
- Você não sabe?
- Quero dizer que o Pinto é da parte de meu pai, o Sei Lá. Eles concordaram
que chamar uma criança de Tchau Pinto poderia dar azar.
- Por quê?
- Era meu vô, já disse.
- Mas escuta...você nunca quis trocar de nome?
- Eu quis.
- E por que não trocou?
- Eu Quis é meu tio. Ele me convenceu a não trocar de nome.
- Por quê?
- Meu avô não falou nada. Sabia que eu nunca conheci ele?
- Quero saber por que todos na sua família têm nomes tão idiotas.
- Idiota é se chamar Mariana. Não é nem Maria nem Ana...uma total falta de
imaginação.
- Pois eu acho que você está mentindo. Seu nome deve ser João e você só está
inventando estas besteiras pra chamar minha atenção.
- Sai fora.
- É o que eu vou fazer!
- Sai Fora é minha irmã caçula. Ela me disse certa vez que é complicado
entender a alma feminina.
- Complicado é conversar com você! Eu vou procurar um cara normal pra me
pagar uns drinques!
- Sua vadia.
- O quê?
- Tem uma boate a duas quadras daqui chamada Sua Vadia. Lá os drinques são
mais baratos.
- Seu babaca!
- Você conhece meu irmão?
- Seu irmão se chama Seu Babaca?
- Meu irmão não se chama porque sempre que ele precisa dele mesmo, ele está
por perto.
- Você é doente! – esbravejou Mariana se afastando.
Tchau bebeu mais uns drinques e voltou para o sanatório, como sempre,
solitário como a agência de turismo para kabunquistão.
Começara a ficar louco devido a um profundo sentimento de rejeição. Afinal,
pra onde ele fosse, sempre ouvia a mesma coisa assim que pisava no lugar:
- Tchau.
Gente assim não pode ser feliz. Seria culpa dos pais?
Sei Lá, Vai Saber...
Morreu louquinho de pedra sem nunca conhecer o Porquê.

Diego Gianni

 
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