Sentença de vida

O juiz bate o martelo e sentencia:

- Você foi condenado a nascer!

Berro de desespero. Todo mundo nasce um dia, mas a gente nunca imagina que isso vai acontecer com a gente.

“Imaginem só...Eu...Nascido”.

Gosto do gosto da morte. Odeio o martelo daquele juiz maldito, prefiro o martelo dos carpinteiros, que pregam pregos, e não mortes.

Dá até um nó na auréola. Você está numa boa, não existindo, e de repente, num piscar de almas, está para existir!

Paz de espírito.

Como os homens são tolos. Lutam por paz de espírito e a ajuda pacífica costuma ser armada. Clamam pela paz de espírito, mas a paz de espírito não está no corpo, pois corpo e alma não se dão.

Quando eu já tiver partido desta não existência, os inexistentes comentarão entre eles:

- Partiu tão cedo...

- Tinha tanta morte pela frente...

- Para onde a gente vai quando nasce?

- Quer saber? Eu acho que ele está num lugar pior agora...e acho que ele está infeliz.

Quisera eu ter continuado com minha doce perpétua, morrendo a eternidade, apenas não sendo...

Mas fui sentenciado por um júri hipocraticamente íntegro, condenado a nascer. Vago por um túnel de escuridão, me afastando da luz. Décadas se passarão antes que eu reencontre essa luz bendita.

Ela vai ficando cada vez mais distante, eu vou me esquecendo das coisas, vou deixando de não ser e começo a ser, integro o que sou a um corpo e de repente...

Estou vivo. E nem sei como vim parar aqui.

Uma pessoa pode ser infinitamente mais inteligente do que uma pedra, mas assim como ela, não é capaz de se lembrar de como é a sensação de não existir...e uma pedra pode ser imensamente mais sábia do que as pessoas, pois não se aflige com nada.

É que tem alguma coisa dentro da gente, que fica tentando se lembrar...

Diego Gianni

(30/01/2010)

 
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