Rock Semper Fi

Acredito que idéias geniais como o rock surgem, por assim dizer, gradativamente. Do blues nasceram as notas do Bill Haley, Chuck Berry e do Little Richard, assim como se não existisse outro caminho musical possível. Coisas que começam assim tendem a nunca mais acabar.

É como aquele abraço que você um dia tentou dar naquela pessoa logo no primeiro dia em que a conheceu. De um simples gesto como este, há encadeamento de sentimentos, perfumes e lembranças que jamais nos abandonam. A música para mim é isso: perfume que a lembrança jamais deixa desaparecer.

É indiscutível o mistério escondido sob o encadeamento de acontecimentos do começo curioso das bandas que se juntam e só dão certo depois que trocam de baterista. O tempo passa e, de uma hora para outra, eles se reúnem para compor uma música chamada The End. Fim para quem? Permanece o cheiro das notas na guitarra de um álbum branco e o misticismo de um disco cheio de cores inspirado em puro sincretismo entre ocidente e oriente, entre mundo real e a metafísica idealista de algo pretendido. Aliás, nos despedimos dos Johns e dos Georges, choramos junto quando os Pauls perdem suas Lindas e assistimos satisfeitos aos Ringos completarem 70. Rock é mais que música, são lendas por debaixo de notas.

E não tem como dizer pouco sobre alguns que se despediram com menos idade do que convencionamos e viveram mais intensamente do que ousamos. Jimi, Janis, Jim.  Sem aliterações, foi assim que aconteceu. Há algo de contato com uma intensidade muito maior que a nossa, com uma capacidade muito maior que métricas são capazes de resumir. Tenho vergonha de quem insiste que música é matemática.

Desculpa, mas meu som é movimento e paixão. É desabafo sobre e para todo mundo ouvir. É um jeito de cantar sobre o amor que chegamos muito perto de compreender, sobre as frustrações que nos cansam de insistir, sobre os sonhos que mantemos em nosso patamar turrão de deliciosa teimosia.

E como não concordar? Existe a mais plena liberdade por trás dos cabelos longos e das canções de todo meu amor de um Led que não nasceu nesse planeta, apenas passou para dizer que caminhos são escadas e que, quando a represa romper, não poderemos mais chorar ou rezar. Impossível manter uma visão simplista de perfeição matemática ou revolta pueril em tanto som com sentimento proclamado em liberdade, desejo e ação. Igualdade, força, bem e mal. Amizade, fraternidade e duas guitarras tocando junto com vocal e baixo ritmando tudo com batera.

Pois vejo tudo, escuto tudo. Como já anunciado, esse ritmo não morrerá jamais, não pode ser sobrepujado ou subjugado. Desde sempre, ele assusta, pois manda a matemática musical, a erudição excessiva e o verbalismo contido para longe. É a canção maior que gerações.  É um som para quem tem coragem. A canção, um som, vários gestos. E, quando não estivermos mais por essas bandas, a lembrança do rock continuará tocando.

 

*Felipe Belão é publicitário e coordenador de Marketing da Paraná Clínicas, em Curitiba

 
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