A discrição da Descrição

- Pode ficar sossegada, minha senhora. Eles não estão lhe vendo. Fique a vontade para identificar o assassino. - disse o delegado.
Tudo aconteceu meia hora antes. Em um mercadinho a duas quadras da delegacia.


Um jovem de dezenove anos entrou armado no mercado e mandou a mulher do caixa retirar todo o dinheiro da caixa registradora.
Não havia ninguém no pequeno mercado além da mulher, o gerente e mais uma senhora que estava mais ao fundo do mercado escolhendo o leite mais barato. Ouviu o jovem entrar gritando e resolveu ficar ali mesmo, escondida
O jovem olhou inpacientemente a mulher tirar o dinheiro da caixa registradora.
- Mais rápido com isso! Eu não estou brincando!
Ele percebeu o gerente chegando por trás dele. O gerente segurava uma barra de metal que tinha como destino a cabeça do assaltante. Era o dono de um mercadinho a beira da falência, não podia permitir que um jovem marginal levasse todas as suas economias.
A senhora mais ao fundo colocou a mão sobre o coração ao ouvir o som de um tiro.
- Dá a grana! Dá a grana!
A senhora espiou a triste cena por uma fresta da estante de bolachas. Parecia que estava vendo uma novela. Mas não estava, pensou com tristeza. Não conseguia acreditar no que estava vendo. Não conseguia mesmo.
Talvez o movimento que a mulher do caixa fez com o braço para passar o dinheiro para o jovem fosse considerado por ele ameaçador, pois ele decidiu que o melhor a fazer seria dar um tiro na mulher também. Em seguida colocou todo o dinheiro em uma sacola e saiu correndo empunhando a arma.
Quando o delegado entrou no mercado só encontrou a pobre senhora do lado do caixa. Olhando para os dois corpos, chocada com o que acabara de ver.
Os policiais levaram para a delegacia, além do jovem que acabara de assaltar o mercado, mais cinco outros suspeitos que estavam por perto. O assaltante se livrou da arma e se meteu ali no meio dos jovens igualmente mal encarados. Os policiais ficaram sem saber qual deles acabara de assaltar o mercado e matar duas pessoas. Prenderam todos para averiguar.
Depois de acalmar a senhora, o delegdo levou-a até uma sala com um vidro, onde através dele se podia ver seis jovens enfileirados e algemados.
- Qual deles matou aquelas pessoas, senhora?
A senhora hesitou, nervosa.
- Eu...eu não sei. Eu não olhei direito.
- Faça um esforço, senhora. Um deles acabou de matar dois inocentes.
Com lágrimas nos olhos e fazendo o sinal da cruz, a senhora apontou um jovem de boné amarelo a esquerda que parecia estar drogado.
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Levem aquele sujeito para minha sala. Verifiquem se os outros tem drogas. Do contrário, podem liberar.
A senhora fez mais um sinal da cruz. Faria outro daqui a meia hora. Faria isso pela vida inteira, entre outras penitências.
Acabara de apontar para o jovem errado.
Na rua em frente a delegacia esperou pacientemente um dos jovens ser liberado. O jovem saiu da delegacia aliviado, nem acreditando que acabara de assaltar e matar e já estava solto como se nunca tivesse feito nada. Atravessou a rua sorrindo com sua malandragem. Sorriu até enxergar a senhora que estava ali lhe esperando.
O jovem abaixou os olhos de vergonha. Não sabia se algum dia conseguiria olhar novamente nos olhos de sua mãe.

Diego Gianni.
 
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