Cineasta de Curitiba é sucesso nos EUA

Lucca Soares conquista mercado nos EUA (Foto: Divulgação)

Feed de notícias agitado, timeline rolando e de repente ele está lá em reunião com os Prefeitos de Miami, entrevistando e recebendo apoio do Presidente da Knight Foundation (uma das maiores fundações de arte e jornalismo dos Estados Unidos), tomando café com líderes e CEO’s de empresas bilionárias com uma certa intimidade e sendo convidado para eventos de gala na terra do Tio Sam. Ninguém estava entendendo nada quando ele começou a postar tudo aquilo nas suas mídias sociais. Parecia montagem. Uma surpresa para muitos. Era uma incógnita saber como é que ele fez para chegar lá. Afinal ninguém nunca soube direito o que o Luccas Soares fazia ou estava tentando fazer. Ele sempre fez um pouco de tudo. Difícil defini-lo. As vezes ele aparecia como diretor de filmes, como cantor em programas locais, como empreendedor, como produtor cultural, era sempre uma dúvida entender o que ele realmente era. Mas de um jeito ou de outro ele sempre aparecia com alguma coisa.

Para quem não o conhecia, Luccas parecia apenas mais um millenial sem foco, mas na contramão da opinião popular, o jovem de vinte oito anos sempre teve um plano. Desde muito cedo se dedica a vida de filmmaker.

“Meu objetivo de vida é construir meu poder de escolha em minha vida artística e quiçá ser o meu próprio investidor, assim a decisão sempre será minha quando quiser me expressar e compartilhar meu trabalho com o mundo.”

Entre tantas histórias, o destaque esperado chegou quando o cineasta foi convidado para produzir e dirigir o filme “The Real Downtown Miami”, projeto que representou o estado da Flórida no pitch para atrair a Amazon para construir sua segunda sede na cidade.

“O deadline era de apenas 10 dias, nenhuma produtora americana aceitou o projeto, abracei a oportunidade e não mudei meu conceito. As pessoas se assustavam quando apenas eu e a Rhaissa (minha esposa) chegávamos para a produção no set. Os recursos que eu utilizo para produzir são extremamente minimalistas, vantagem enorme para nós e algo novo para o mercado local.”

Luccas invadiu o mar do caribe quando Miami foi classificada para a segunda fase da disputa dentre mais de 250 cidades nos Estados Unidos, participando do concurso, a cidade ficou no top 20 nas possíveis escolhas da Amazon.  O sucesso foi avassalador e em menos de 1 ano Luccas abriu uma sede de sua produtora IHC (International House of Cinema) em Miami com sua esposa e sócia Rhaissa Gonçalves e hoje o faturamento da empresa ultrapassou R$ 1M com produções audiovisuais, valor que praticamente supera 5 anos de operações no Brasil.

Nos Estados Unidos, a sede do IHC se localiza dentro do complexo Ironside em North Miami. Conhecido como um microcosmos de Miami, Ironside é um espaço charmoso e conceitual que compreende artistas e empreendedores de todo o mundo. A bordo do IHC em Miami, Luccas trabalhou com clientes de alto reconhecimento. Entre eles: o grupo de Real State Claro Development, com o documentário Ocean Terrace para expor o projeto de desenvolvimento da área Ocean Terrace em North Miami Beach; a própria prefeitura, Miami Downtown Development Authority, com o documentário The Real Downtown Miami; e a maior fundação patrocinadora de arte e jornalismo do país, a Knight Foundation, onde o IHC atualmente realiza entre outros projetos, o documentário que registra mais de 60 anos de história da instituição.

Além do talento do Luccas e de sua equipe, o que colaborou muito para a realização desses projetos foi o extenso e diversificado portfólio do IHC no Brasil. Em Curitiba, a empresa existe desde 2012 e ficou localizada durante 6 anos no bairro do Novo Mundo, em um espaço multi-plataformas de 1000 m2 onde a produtora realizou além de trabalhos de produção audiovisual, eventos que marcaram a história da empresa e talvez até da cidade. Um desses projetos foi a Lage Chic, um evento que misturava networking com interações artísticas e visava incentivar os artistas locais. Acontecia na laje da produtora 1 vez ao mês, e recebeu nomes como Karol Conka e Jorge Vercillo realizando shows intimistas para artistas, produtores, diretores e donos de grandes empresas brasileiras. O projeto foi um sucesso e durante 2014 e 2015 recebeu mais de 5 mil pessoas. A Lage Chic foi realizada com investimento próprio do IHC e de diversos outros apoiadores como a empresa de telefonia chinesa Huawei, a cervejaria Way Beer, a marca de sorvetes Los Paleteros, empresários locais e o melhor restaurante da cidade, e terceiro melhor do Brasil (segundo TripAdvisor) o Poco Tapas.

A Lage Chic colocou o IHC no spotlight da cidade, mas quem consolidou sua história foram seus apoiadores. A lista de clientes do IHC Brasil conta com nomes como Volvo Penta e Los Paleteros,  e diversas companhias públicas como Copel, Emater, INCA e Tribunal Regional do Trabalho. Além disso, o IHC também realizou a campanha para prefeito de Curitiba em 2016 para o candidato Requião Filho. A campanha gerou uma das maiores receitas da empresa e colocou a produtora no holofote nacional, visto que foi considerada uma das mais inovadoras do país.

Destacando apenas os pontos positivos, pode até parecer que essa estrada foi tranquila, mas todos sabem o quão desafiador é a jornada de ganhar dinheiro com arte no Brasil. Seja lá qual for a sua arte. Quando Luccas Soares começou sua carreira como ator na sua cidade natal em Curitiba, a ideia nem era essa. Tudo o que ele queria era sentir aquela energia que só o palco pode proporcionar e viver o mesmo sonho de milhões de artistas espalhados pelo mundo. Inclusive ele até tinha aversão ao mundo corporativo.

“Nunca sonhei em ser empresário, cresci vendo o estresse dentro de casa, mas após colecionar frustrações descobri o mundo de possibilidades que os negócios poderiam me proporcionar como artista.”

Luccas Soares | #Boquera [prod. Luiz Café] (Vídeo: Luccas Soares)

Nascido no bairro do Boqueirão ou melhor no “Boquera”, como ele gosta de chamar, que inclusive até virou um hit musical do Luccas anos mais tarde, foi preciso mudar de perspectiva para enxergar e criar oportunidades. Não existiam outras alternativas, era preciso abusar do lado criativo do cérebro. Então ele se mandou para o Rio de Janeiro em 2008 sozinho, sem uma rede de contatos construída, sem amigos dentro da indústria, pouquíssimos recursos, era preciso se reinventar para conseguir encontrar um caminho.

Uma das primeiras ideias de Luccas foi começar a estudar cinema. Uma estratégia para conseguir conhecer pessoas da indústria e quem sabe até conseguir uma pontinha na novela das oito. Que nada, ele foi muito mais longe. “Quando entendi que era possível produzir meus próprios filmes e contar minhas próprias histórias, minha cabeça explodiu. Nunca mais parei.”

Como muitos empreendedores brasileiros, Luccas começou uma empresa sem experiência e por obrigação, afinal a estrada para estrelato estava um pouco distante.

“Antes de começar o IHC em Curitiba, tive a oportunidade de viajar o mundo todo produzindo meus filmes e realizando meus projetos pessoais, eu tinha a ilusória certeza que era só voltar para o Brasil para eu estourar.”, brinca.

Nada disso, após uma jornada por 27 países em 2011, graças a venda de um apartamento financiado pela família, a única economia que seus pais tinham para a aposentadoria, Luccas precisou voltar para a casa.

“Sai de casa muito cedo, foi uma barra voltar, não pelos meus pais pois sempre me apoiaram muito, mas é um sentimento de derrota enorme. Ao mesmo tempo, algo muito profundo havia mudado dentro de mim, o mundo me presenteou com histórias inesquecíveis e novas visões. Ferramentas que uso até hoje na minha vida. Essa foi minha universidade.”

Conta no negativo, mas com muito material no HD, Luccas engoliu o orgulho, venceu o ego e superou esse momento de inércia que poderia tê-lo desligado de seu sonho após criar o projeto “Trilhos Independentes” aos 22 anos de idade. A jornada pelo mundo deu origem a 7 curtas metragens produzidos no estilo Glauber Rocha, sem recursos e apenas com uma câmera na mão, que há dez anos atrás era algo fora da casinha.

Os trilhos do projeto levantaram muita faísca e levaram Luccas para uma nova jornada, mas dessa vez como um diretor convidado, um palestrante, uma espécie de jovem prodígio multidisciplinar no que se diz respeito a produções audiovisuais com baixo orçamento.  Um grande passo para sua carreira profissional. Exibições e participações em festivais nos Estados Unidos, Europa, América Latina e até na África. Uma modalidade de produção que representa muito bem o sucesso do seu modelo de negócios atualmente.

Sua curiosidade o transformou em um profissional multidisciplinar, em um empresário internacional que coleciona produções em mais de 44 países. A ascensão do trabalho de Luccas está servindo como incentivo para jovens e profissionais em todo o mundo, principalmente por ter realizado projetos para o governo americano.

“Chegou a hora de contar a minha história e começar a produção dos nossos conteúdos originais. Algo que sempre sonhei em fazer no Brasil. Vou me dedicar para fortalecer e consolidar o IHC nos Estados Unidos para que a produtora seja a base para que todos os sonhos sejam possíveis. Estou me preparando para a produção do meu primeiro longa metragem com recursos próprios e espero seguir nesse caminho incerto, porém cheio de surpresas até o resto da minha vida.”

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