Quero emagrecer, mas sou compulsivo

 

Estar acima do peso não é apenas culpa sua.  É difícil controlar a alimentação, com tantas tentações em cada prateleira do supermercado e com tantas estratégias de marketing voltadas para o consumo desenfreado.

Porém, é preciso diminuir a vergonha, enfrentar a desesperança de não conseguir parar de comer e procurar ajuda. Procurar ajuda pode ser difícil, mas o tratamento é eficaz, pois é fundamental desenvolver uma relação mais saudável com a comida e o peso, lembrar que o tratamento demora em fazer efeito e não se desesperar, pois a vida é uma maratona e não uma corrida de cem metros.

Mas por que será que tantas pessoas enfrentam problemas com a comida? O motivo é simples: os alimentos podem viciar e uns mais que outros. Doces e gorduras dão um prazer imediato, uma sensação de bem estar, assim como álcool e drogas.  A explicação para esse fenômeno é química: a gordura é composta por grandes moléculas de ácidos graxos, agentes que revelam o sabor. A relação entre o consumo de açúcar e o comportamento tem explicações biológicas. A glicose estimula a produção de serotonina e endorfina, neurotransmissores que regulam as sensações de bem-estar e prazer.

Ambos acabam se tornando uma solução imediata para problemas emocionais, como ansiedade e depressão. Esse vício é refletido na compulsão alimentar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Transtorno da Compulsão Alimentar (TCA) atinge perto de 2,6% da população. O Brasil tem uma das taxas mais altas do mundo, 4,7%.

Associando aos casos de obesidade, uma parte dos obesos apresenta um comportamento compulsivo em relação à alimentação e dois terços que apresentam transtorno de compulsão alimentar são obesos.

Nesse sentido, a compulsão pode ser entendida como uma necessidade interna, uma força, que leva a pessoa a repetir um determinado comportamento. Essas ações costumam vir seguidas de uma sensação de alívio ou bem-estar. Cientificamente, é definida como uma ingestão de grande quantidade de comida, maior do que a maioria das pessoas comeria, em um intervalo de tempo menor que duas horas.  Porém, aliada à esta ingestão, vem o hábito de comer rápido e sozinho, até se sentir cheio e com vergonha da quantidade de comida que ingeriu. Outro aspecto é a sensação de culpa, desânimo e perda de controle sobre o que consome.

É interessante entender que o transtorno de compulsão alimentar muitas vezes vem acompanhado de transtornos de ansiedade e do humor, podendo gerar a depressão e o transtorno bipolar. Nota-se, também, que ele pode aparecer associado a outros transtornos em que há a dificuldade de controlar comportamentos ou impulsos, como o alcoolismo e o uso de substâncias como a maconha e a cocaína.

Mas existem diversos fatores que podem interferir e até mesmo causar a compulsão alimentar, como os culturais, psicológicos e biológicos. Esses últimos, provocam uma desregulação de hormônios de estresse, como o cortisol, além dos hormônios ligados ao comportamento alimentar - como a grelina e leptina -, neurotransmissores ligados ao humor e saciedade - como a serotonina - e ao sistema de recompensa cerebral - como a dopamina.

Se falarmos sobre os obesos, de forma sintética, aqueles com transtorno de compulsão alimentar têm maior sofrimento, prejuízo funcional e menor qualidade de vida que obesos sem esse diagnóstico. Isso evidencia que, quando a compulsão alimentar está presente, a chance de sucesso de uma dieta ou reeducação alimentar é menor, principalmente a médio e longo prazo.

Porém, vale lembrar que o tratamento do transtorno da compulsão alimentar deve ser tratado e acompanhado por psiquiatras e os psicólogos.  Existe um estigma à obesidade de maneira geral, uma vergonha de estar obeso, de apresentar compulsão alimentar, o que afasta as pessoas do tratamento.

(*) Médico especialista em psiquiatria da Unimed Curitiba

Roberto Ratzke (*)

 

*foto ilustrativa retirada da internet

Última atualização em Qui, 14 de Junho de 2018 09:54  
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