Hiperatividade: parece, mas não é!

Problemas na escola, agitação exagerada, dificuldade de concentração e de socialização com outras crianças. Para muitos pais, esses comportamentos apontam diretamente para o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), uma doença banalizada, mas que atinge apenas 4% dos pequenos no Brasil.

“O problema é acreditar que um comportamento isolado seja, automaticamente, sinônimo da hiperatividade e do déficit de atenção”, explica a médica especializada em psiquiatria Beatriz Rosa – que atende crianças no hospital Santa Marcelina, em São Paulo, e possui um consultório em Curitiba. “Esse distúrbio contempla uma série de fatores que impactam vários aspectos da vida desse paciente”, destaca.

Segundo ela, para diagnosticar o transtorno, é necessário envolver uma equipe multidisciplinar para entender exatamente o que aquela criança está sentindo e pelo o que ela está passando no momento dos sintomas. “As crianças são um livro em branco. Nós é que escrevemos nesse livro. Estigmatizá-las como hiperativas não é positivo, ainda mais quando não se tem certeza desse diagnóstico”, ressalta a especialista.

Abaixo, ela lista quatro sintomas que podem ser confundidos com o TDAH, mas que na verdade podem ter outras causas. Confira:

Mau desempenho escolar – Talvez o sintoma mais “popular” para que os pais acreditem que o filho sofre de hiperatividade e déficit de atenção. Mas que, na verdade, pode estar disfarçado de outros problemas. “O mais importante é perceber se os problemas que ocorrem na escola se repetem em outros ambientes – algo característico do TDAH”, explica Beatriz.

“Se a criança é agitada e até violenta na escola, talvez seja por um ambiente agressivo e opressor que ela convive em casa, por exemplo. Nesse caso, o tratamento é completamente diferente, pois não estamos falando de um distúrbio mental, mas sim comportamental”, destaca.

Agitação – “Muitos pais já me pediram para receitar Ritalina simplesmente para acalmar seus filhos, sem um diagnóstico prévio. Isso é grave, porque estamos falando de uma medicação que, se mal usada, pode ocasionar problemas mentais irreversíveis”, conta a especialista. Segundo ela, é preciso saber diferenciar impulsividade e a agitação normal dessa idade. “Crianças são naturalmente agitadas. Elas querem conhecer o mundo, cada detalhe, e tem energia de sobra pra isso. Mesmo assim, elas são muito diferentes daquelas que são hiperativas, com comportamento impulsivo, sem conseguir controlar seus atos. A criança que sofre com TDAH simplesmente não consegue “parar” para assistir TV, ouvir uma história ou jogar um jogo. É aí que os pais conseguem diferenciar os sintomas”, explica.

Falta de concentração – Você fala uma, duas, três vezes a mesma coisa e seu filho não consegue compreender? Isso não significa, necessariamente, que ele sofra de TDAH. “Uma criança que sofreu ou sofre com um trauma muito grande em sua vida – perda de um ente-querido, de um bichinho de estimação, bulying na escola, etc – pode desenvolver sintomas como a dificuldade de concentração, além de timidez e desatenção, que são sinais da criança pedindo ajuda. Por isso é importante não diagnosticarmos por conta própria e assim estigmatizar ela com uma doença, porque isso pode agravar ainda mais o quadro do paciente, que se sente mal e até com vergonha por possuir tal doença”, ressalta Beatriz.

Dificuldade de socialização – “As crianças que sofrem de TDAH realmente têm uma dificuldade maior para se enturmar, porque não conseguem parar quietas ou prestar atenção na orientação de uma brincadeira. Mas, às vezes, essa dificuldade está relacionada a outros aspectos, como bullying e outros distúrbios, como ansiedade e depressão, que também podem atingir as crianças”, explica a doutora. “É necessário fazer uma análise em todos os aspectos da vida da criança para entender o que ela está passando naquele momento. Às vezes, um pequeno detalhe é a chave para o diagnóstico”, ressalta.

 
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