Entrevista: Arquiteto Arthur Casas

Uma vez eu li que o sonho do brasileiro era ter a casa própria e só depois que vinham os sonhos “adicionais” para se realizar. Afinal de contas é preciso uma casa para abrigar os sonhos. Eu acho que este ainda continua sendo o sonho do brasileiro e de muita gente pelo mundo, agora imagine você tendo o prazer de ter o projeto da sua casa nas mãos do arquiteto Arthur Casas. Alguém que tem a profissão no sobrenome no mínimo consegue deixar o seu cantinho com a sua cara e com um bônus que é a inovação e aproveitamento do espaço.

Arthur Casas esteve em Curitiba na última semana para o lançamento do livro “Works”, no evento da AG7, no Graciosa Country Club. Na obra aborda oito anos de trabalhos intensos na arquitetura. Casas é dono do Studio Arthur Casas que tem sede em São Paulo e em Nova York lá ele aplica o conceito de escala para criar e elaborar os projetos. Nós conversamos com ele e abaixo você vai conhecer um pouquinho deste profissional preocupado com as pessoas e a sua interação aos espaços que produz. Confira:

AC - Pelo nome do seu livro já deu para ter uma ideia do que vamos encontrar na obra. Quais trabalhos escolheu para mostrar aos leitores? Imagino que tenha sido difícil a escolha.

AC - São trabalhos de 2008 a 2015 e são trabalhos que vão em todas as escalas de cada objeto, do faqueiro até a escala de trabalho de urbanismo, como o Lago do Pelourinho, por exemplo.

AC - Quantos anos de carreira estão neste livro? Quanto tempo para a elaboração desta obra?

AC - Um ano de trabalho. Este livro deu muito, muito trabalho. Ele tem muito desenho. Tem muito desenho técnico. Tem muitos textos e fotos, um de cada parte do mundo. A Ligia Casas, minha mulher, ficou trabalhando full time no livro para dar conta de todo o trabalho.

AC - Aproveitando que você utilizou uma “escala” para a produção do seu novo livro. De uma escala de 1 a 10 o que a arquitetura significa para você?

AC - Na verdade a arquitetura é meu hobby. Apesar de ganhar dinheiro com ela, eu sobrevivo, eu me sustento com ela, é meu hobby então é um prazer, não é uma obrigação.

Eu demorei a entender que as pessoas não tinham esta mesma felicidade. Escolher a profissão é difícil. É difícil ter esta definição.

AC - O que mais te motiva na área da arquitetura?

AC - Eu não sei... O meu pai naquela época estava construindo uma casa para a família e ele saía muito com a minha mãe e eu de carro vendo casas para ter ideia de material e eu acho que isso continua bastante em mim. [Arthur decidiu ser arquiteto aos oito anos de idade.]

Meus tios moravam numa cidade que é Anápolis, perto de Brasília. Então desde os cinco anos eu comecei a ir para Brasília, muito. Eles antes moravam em Belo Horizonte. Este contato com a Pampulha, com a obra do Niemeyer, com Brasília também me deu certa inspiração.

O primeiro edifício que me emocionou muito foi a Catedral de Brasília.

Eu só me enjoo às vezes quando eu tenho de repetir alguns detalhes de outro projeto. Eu gosto de ter tempo de ir a fundo com as coisas, mas nem sempre dá tempo.

A minha inspiração até hoje, é sempre imaginar como que a pessoa que vai usar aquele espaço vai se relacionar com ele.

AC - Já que você veio à Curitiba para falar sobre tendências, qual é a tendência/ identidade do seu trabalho?

AC - Transparência. Ter um contato de dentro para fora, você agregar o teu espaço externo para dentro da casa. Seja lá qual for, ele pode ter uma profundidade de campo de golfe como pode ter uma parede de cinco metros. Eu gosto de juntar uma coisa com a outra.

Existe uma globalização muito grande que é uma coisa que ainda no Brasil e em muitas cidades tem o apego à regionalização, isso vai acabar. Eu acho que daqui a alguns anos isto não vai existir mais, até pela rapidez de comunicação.

AC - Por falar em evento, você pode nos contar um pouco sobre o projeto Ícaro Jardins do Graciosa? Qual a proposta deste empreendimento?

AC - Sair do conceito do prédio de apartamento. Ele não é um prédio de apartamento absolutamente, eles são residências empilhadas. É trazer a escala da residência que a pessoa provavelmente morava antes de ir para o Ícaro. Neste ambiente ele vai ter a lembrança de como era feliz enquanto morava em uma casa. Aqui ele continua morando em uma casa.

AC - Mais de 15 anos no mercado, o escritório estampa as principais revistas do Brasil e do mundo, reconhecimento com sede em Nova York. Como você define o Studio Arthur Casas?

AC - Cada vez mais a gente está tentando agora driblar essa questão ruim do Brasil. Mas até então temos vivido momentos interessantes de poder ter trabalho de fato de uma forma holística na arquitetura, que é a questão da escala.

De forma realmente grande o tema casa, por exemplo, nós estamos fazendo uma casa nova em Niterói, nós vamos desenhar desde o faqueiro, a cadeira, a mesa, a casa, a maçaneta, vendendo um conceito só. Entende?

AC - A mensagem que não pode faltar é aquela de incentivo para quem quer seguir um caminho como o seu profissional.

AC - Primeiro a pessoa tem que ter uma informação. Não pode ser distraída, tem de ser uma pessoa extremamente observadora e que procure muita informação. Sem essas características, só se ele tiver um dom divino ele vai ser um grande arquiteto.

A arquitetura não é uma arte. O artista consegue ter um domínio total do que ele vai fazer. O arquiteto não. Ele depende da demanda, ele depende do cliente, da qualidade da construção, ele depende da demanda do mercado, ele depende de aprovação, de legislação e órgãos públicos, depende de dinheiro e de um monte de coisas. Não é uma profissão fácil.

Cada vez mais tem de tirar a figura do arquiteto e do artista que apresentam dois papéis completamente diferentes. Arquitetura é uma equação.

AC - Pra fechar uma curiosidade: O sobrenome "Casas" é uma coincidência ou uma adequação a profissão que está no sangue?

AC - Eu nasci predestinado. Não poderia ser dentista. (risos)

E aí gostou da entrevista? Material humano puro o Arthur Casas, não é? Vamos combinar que há outra coincidência: as nossas iniciais são iguais. Percebeu?

 
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