Longa sérvio CICATRIZES estreia dia 13 de fevereiro

A história de Ana, a costureira com uma vida assombrada pela suspeita de que a morte de seu bebê recém-nascido tenha sido forjada, não é um caso isolado na Sérvia do amanhecer da sangrenta Guerra Civil Iugoslava, mas é a jornada dela que acompanhamos em CICATRIZES. Dirigido por Miroslav Terzić, o filme foi o indicado da Sérvia para concorrer a uma vaga ao Oscar de melhor longa estrangeiro e foi exibido em festivais como o de Berlim, de Pequim e de Zurique.

O roteiro de CICATRIZES é baseado no testemunho de Drinka Radonjic, uma costureira de Belgrado que procurou pelo seu “filho natimorto” por quase duas décadas. Poucos dias após o parto, seu obstetra disse a ela que seu bebê recém-nascido havia morrido. Mas ela nunca recebeu o corpo do filho ou descobriu onde o hospital o enterrou. A suspeita de que a criança tenha sido na verdade raptada a conduz por uma exaustiva saga.

No filme que entra em cartaz em 16 de fevereiro, a protagonista Ana (interpretada pela veterana atriz Snezana Bogdanovic) representa Drinka. Durante anos ela entra em conflito com a administração do hospital, com médicos, com a polícia, com tribunais, com a própria família e com oficiais municipais para obter o certificado de óbito adequado que iria provar onde seu filho recém-nascido havia sido enterrado. Durante essa longa briga, Ana descobre muitas irregularidades na documentação hospitalar e governamental que provavam suas dúvidas e crença de que o bebê estava vivo. Depois de quase vinte anos, ela finalmente descobriu a verdade.

Cerca de 500 famílias da região passaram pelo mesmo que Drinka e ainda tentam encontrar seus filhos roubados durante o fim dos anos 1980 e início da década de 1990. O período marca o começo de uma guerra que partiu a antiga Iugoslávia.

“Eu percebi esses eventos como a última evidência da deterioração humana e moral da qual nós não tínhamos nos recuperado. Alguns anos atrás eu encontrei Drinka Radonjic. Ela era a costureira da minha tia. Após 20 anos, ela acreditava ter encontrado o seu filho e estava provando seu caso na justiça. Eu fui até uma alfaiataria no centro de Belgrado para entrevistar a senhora Radonjic. Ela era uma mulher firme, brava e humilde. Drinka localizou seu filho, mas ele não quis encontrá-la, já que disseram a ele que sua mãe o abandonou quando ele nasceu”, afirma o diretor Miroslav Terzić.

CICATRIZES

SAVOVI | STITCHES

Sérvia, 2019, 97 min. Ficção, cor

Direção: Miroslav Terzić

Roteiro: Elma Tataragic

Fotografia: Damjan Radovanovic

Montagem: Milena Z. Petrovic

Som: Julij Zornik

Música: Aleksandra Kovac

Figurino: Zora Mojsilović

Produtor: Uliks Fehmiu e Milena Trobozic Garfield

Produção: West End Productions

Elenco: Snezana Bogdanovic, Marko Bacovic, Jovana Stojiljkovic, Vesna Trivalic e Dragana Varagic

Distribuição: Arteplex Filmes

SINOPSE

Inspirado em fatos e ambientado na Belgrado dos dias atuais, o longa revela a jornada de Ana, uma mulher que acredita que, há 18 anos, seu filho recém-nascido foi roubado, ao contrário da versão que contaram a ela na época, de que o bebê havia morrido. De forma obsessiva e persistente, ela luta contra a polícia, a burocracia do hospital e até mesmo contra a própria família para descobrir a verdade.

Miroslav Terzić (diretor)

Nascido em 1969 em Belgrado (Sérvia), Miroslav se formou em direito internacional na Universidade de Belgrado. Possui pós-graduação na Faculdade de Artes Dramáticas da mesma universidade. Seu primeiro filme, Redemption Street (2012), estreou no Festival de Cinema de Sarajevo.

No campo da publicidade, como diretor, Miroslav colaborou com algumas das maiores agências de marketing da região, como Leo Burnett, Oghilvy & Mather, McCann Ericson, Publicis, Saatchi & Saatchi, para suas maiores campanhas publicitárias.

Snežana Bogdanović (Ana)

Uma das atrizes mais proeminente da antiga Iugoslávia, o trabalhos teatral de Snezana Bogdanovic abrange desde a Electra de Sófocles à Maggie de Gata em Teto de Zinco Quente e Sra. Robinson em A Primeira Noite de Um Homem. Durante seu tempo no teatro, ela ganhou múltiplos prêmios nacionais, recebendo elogios da crítica em toda a região dos Balcãs.

Através de seu trabalho no cinema, Snezana ficou conhecida por seu protagonismo em Kuduz, de Ademir Kenovic, Original Forgery, de Dragan Kresoja, e My Brother Aleksa, de Aleksandar Jevdjevic e Srdjan Jevdjevic, pelos quais ela também recebeu vários prêmios nacionais de cinema. Seu papel em Kuduz lhe rendeu uma indicação ao European Film Award de Melhor Atriz e também uma vitória com o Special Spirit Award.

Seu trabalho também incluiu vários papéis principais na televisão sérvia, entre eles uma adaptação sérvia do programa da HBO Em Terapia. No auge de sua carreira, devido à agitação política e à guerra na ex-Iugoslávia, Snezana deixou o país e se mudou para os Estados Unidos. Atualmente mora na cidade de Nova York. O trabalho mais recente de Snezana foi um papel em The Sonfilme da diretora bósnia Ines Tanovic, atualmente em pós-produção.

DEPOIMENTO DO DIRETOR

A história da maternidade, opressão e busca pela verdade

Eu me tornei pai pela primeira vez em 2001. Naquele mesmo ano, alguns meses após o grande evento da minha vida, eu ouvi a história sobre os seqüestros de bebês recém-nascidos em hospitais. A história sobre a venda deles, falsos certificados de óbito, mães enganadas e famílias arruinadas. O nascimento do que estava prestes a acontecer provocaram em mim medo, não apenas pela questão natural se tudo ficaria bem, mas sim se cairíamos em uma reviravolta semelhante de eventos. Decidido em lutar esta batalha, comecei a cavar, a investigar arquivos e a procurar testemunhas que desejassem e tivessem algo a dizer sobre esse assunto; uma questão que raramente surge na imprensa e parece mais uma ficção do que realidade. Isso era verdade? Talvez fosse. Encontrei nos arquivos do “Politika” (o jornal mais antigo e popular da Sérvia) dezenas de artigos sobre sequestros de recém-nascidos. Todos os casos tiveram o mesmo padrão. A mãe exausta é sedada. Quando ela acorda, a informam de que seu bebê morreu. Ela é aconselhada a não ver o corpo do bebê, já que esse corpo é tratado como um desperdício patológico e parece perturbador. A autópsia é incompleta e não-assinada. Os certificados de óbito são fabricados. Toda documentação é ou contraditória ou incompleta. Nenhum dos casos jamais foi solucionado.

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