Literatura, artes e lirismo geométrico no mesmo local


Três grandes nomes do livro ilustrado se reúnem para lançamento coletivo em São Paulo, no dia 27/11

Depois de um ano e meio de recolhimento em virtude da pandemia, os eventos literários presenciais retornam às livrarias brasileiras. Leitores, fãs e interessados no universo das artes e letras podem reencontrar – ainda sob os cuidados de prevenção à Covid-19 – seus escritores preferidos para um bate-papo, troca de ideias, fotos e dedicatórias.

Para mostrar e aproximar suas obras do público, a Editora Maralto – recém inaugurada no mercado brasileiro – reuniu três grandes nomes de seu catálogo, composto por mais de 150 escritores e ilustradores, para o primeiro evento presencial em 2021.                                                                                                                                                          

No dia 27 de novembro (sábado), das 14h às 18h, acontece o lançamento coletivo na Livraria NovaSete, na capital paulista. Os autores Alexandre Rampazo, Daniela Galanti e Raquel Matsushita lançam respectivamente os títulos “Orbitar”, “Nina, Não” e “Desaforismos”. A entrada é franca e o local segue com os cuidados preventivos à Covid-19.

Livro: Orbitar

A obra de estreia Alexandre Rampazo na Editora Maralto aborda a maternidade e a metáfora do filho que fica numa trajetória externa à mãe. Ricamente ilustrado, com textos curtos e reflexivos, o livro traz camadas de leitura em que o universo, os mistérios da vida e o silêncio compõem o enredo, que permite novas descobertas em leituras e observações mais apuradas.

Para as crianças, isso tem fundamental importância, principalmente na formação estética. Segundo a artista e ilustradora tcheca Kveta Pacovska – que recebeu a medalha Hans Christian Andersen em 1992 por sua contribuição duradoura para a literatura infantil – as imagens de um livro ilustrado são a primeira galeria de arte que uma criança visita.

A narrativa nos convida a ver com delicadeza e sensibilidade que alguns dos vínculos originais entre pais e filhos são rompidos, mas que outros são inaugurados, transformando-se em presença perene e cuidadosa. Como deve ser, se desejarmos que os filhos cresçam e encontrem em torno de quem e do que orbitar.

Perfil

Alexandre Rampazo nasceu e vive em São Paulo. Formou-se em design, é autor de livros ilustrados e artista gráfico. Recebeu importantes prêmios literários como o Jabuti, Prêmio Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil; terceiro lugar no Prêmio Biblioteca Nacional, Prêmio Fundación Cuatrogatos, Selo Altamente Recomendável FNLIJ, Troféu Monteiro Lobato, entre outros. Seus livros foram publicados no Brasil, América Latina e Europa.

Livro: Nina, Não

A personagem desta obra é uma menina que não gosta de rosa. Apesar de sua mãe, sua amiga e a mãe de sua amiga gostarem da cor, Nina a rejeita de todas as formas. Nina gosta de azul.

Ao longo da narrativa ilustrada com lápis de cor pela própria autora, enxergamos a menina passando por situações em que precisa se apegar à sua própria essência.

A obra poética trata do poder de escolha, da liberdade, da opção de uma criança. Sem nenhum caráter ideológico, mas literário.

Nina sim!

Até bem pouco tempo, nossa cultura nos ensinava, silenciosamente, que há coisas que são de meninas e outras que dizem respeito aos meninos. Desse universo – objetivamente dividido entre feminino e masculino – fazem parte comportamentos, habilidades, brincadeiras, profissões e até mesmo cores que tentam nos dizer e, especialmente às crianças, quem somos e como devemos viver.

Mas, aos poucos, bem aos poucos, começamos a entender que meninas e meninos não precisam estar presos ao que, em algum momento, alguém disse sobre como as coisas deveriam ser, assim ou assado, desta ou daquela maneira. É com esse olhar de acolhimento e de liberdade para as infâncias – mas não exclusivamente para elas – que Daniela Galanti nos oferece, aos leitores de todas as idades, o sensível e instigante Nina Não.

Nina é uma garota que, contra todas as expectativas e influências, não gosta da cor rosa, aquela considerada “das meninas”. Ela parece também não apreciar muito as aulas de balé e seus cenários rosados. Nessa história contada com palavras e imagens, somos convidados a construir, junto com a menina, caminhos que a levam para quem ela realmente é e faz questão de ser naquele momento.

A leitura de texto e as ilustrações – que ocupam harmônica e indissociavelmente o espaço das páginas do livro – celebra com delicadeza e eloquentes detalhes a beleza de romper com o olhar do outro em favor do nosso próprio desejo. A recusa do rosa pela pequena Nina não deprecia ou contesta o gosto que sua mãe e suas amigas têm pela cor. Ela apenas gosta de outras cores, de outras brincadeiras. E busca outros horizontes, distintos dos previamente planejados para ela.

Nina Não não quer ensinar nada a ninguém, muito menos criar orientações com sinais invertidos. Como fazem os bons livros de literatura, oferece aos leitores elementos que ampliam seu repertório simbólico, reinventando sentidos e impressões sobre o mundo. Trata-se de literatura para saber mais sobre nós mesmos e sobre o nosso tempo, em todas as idades.

Perfil

Daniela Galanti cresceu com o lápis na mão. Em suas cartas ao Papai Noel, sempre o mesmo pedido: uma caixa de lápis de cor, por favor. Dizia com toda certeza que seria estilista de vestidos de noiva, desenhista de gibis da Turma da Mônica e professora de Arte.

A vida adulta chegou e ela escolheu uma faculdade em que pudesse continuar desenhando: Arquitetura. Descobriu seu trabalho inventando paisagens: assim brotavam flores em cores, plantas em infinitos tons de verde vindos de sua caixa de lápis, pedras arredondadas à mão. Em 2006, uma semente muito especial nasceu em seu próprio jardim. Ali começou sua história com os livros infantis. Não lia apenas para o Miguel, seu filho, mas se encantava junto pelas palavras e por todas aquelas ilustrações maravilhosas. Queria desenhar além das paisagens. E de lá pra cá não parou mais de estudar e pesquisar sobre esse universo.

Criou o Atelier Daniela Galanti em 2014, na cidade de Campinas, onde vive desde que nasceu. É nesse espaço onde tudo acontece. Onde nascem os seus livros, onde conhecimentos são compartilhados com os alunos, onde outros autores e ilustradores são convidados para contar suas experiências, tomar café e comer bolo. É nesse atelier onde Daniela se desenha todos os dias como uma “fazedora de livros”.

Livro: Desaforismos

Nesta obra, a escritora, designer e ilustradora Raquel Matsushita brinca com as formas e as cores, desobedecendo as regras da narrativa de uma forma bem humorada. As paisagens, em conjunto com o texto, compõem um novo livro a cada página e ilustram facetas da realidade humana: o exibido, o mentiroso, o dedo-duro, o apaixonado, o desaforado.

O livro acaba de ganhar o prêmio Image of the Book 2020/2021 – concurso realizado pela Agência Russa de Imprensa e Comunicação de Massa e pela Associação de Artistas Gráficos de Moscou.

Lirismo geométrico

Segundo o ilustrador e escritor Rui de Oliveira, não existe um objeto sem sujeito. Assim como não existe uma forma unicamente como forma, algo sem alma, que representa apenas a si próprio, sem a aderência à história, aos sentimentos humanos ou à sociedade – uma forma natural ou geométrica desprovida de qualquer simbolização.

Para ele, essa junção harmónica do informal com o formal, da figura com a abstração é um dos aspectos mais significativos dos livros de Raquel Matsushita que usa muito bem o espaço narrativo onde se encontram a ordem e a rebeldia.

Na síntese da quarta-capa – escrita em forma de acróstico pelo artista multimídia, ilustrador, designer, desenhista e cenógrafo brasileiro Guto Lacaz – Raquel é tudo isso e mais um pouco: Rica, Árvore, Qualidade, Universal, Escrita, Livre.

Leituras desaforadas

É comum, diante de um livro para crianças, a busca por classificações: poesia, narrativas ilustradas, recontos, lendas?… Nem sempre é possível (e nem mesmo necessária) uma conclusão certeira e imediata sobre o gênero textual e livresco; e muitas vezes os entendimentos vão sendo alterados ao longo das leituras: o que lemos como poesia, em um primeiro momento, se revela um aforismo, sem deixar de ser também uma narrativa, por exemplo. Este é o caso de Desaforismos, um livro múltiplo e com muitos caminhos para sua leitura.

Já no título, a autora anuncia a brincadeira com os aforismos – um pensamento breve, um ditado, uma máxima – com sinais invertidos, sugerindo sua negação. Este pode ser um caminho de leitura, sem dúvida: jogar com a desconstrução de pequenas frases-pensamento, com base em palavras e imagens. Mas é possível também seguir por outras vias, com ênfase nas associações mais comuns mobilizadas pelo título que nos leva à rebeldia e a um certo atrevimento. E isso nos aproxima, sem dúvidas, da poesia.

Embora popular, muitas vezes a palavra “poesia” cria uma ideia de coisa séria e difícil, destinada a pessoas eruditas. Existem sim poemas herméticos e de leitura exigente e também aqueles que, há alguns anos, líamos sem nada entender nos bancos escolares. Mas há também os que são convites para brincar com a língua, com seus significados, imagens, sons e ritmos. Este é o caso de Desaforismos.

O livro é composto por 12 brincadeiras poéticas que ocupam suas páginas com palavras e ilustrações. Para além das imagens construídas pelo texto – aquelas que imaginamos quando lemos ou ouvimos o que determinado arranjo de palavras sugere (que beleza a poesia!) – outros caminhos de leitura, complementares, mas também subversivos, fazem parte de Desaforismos. Em um jogo desafiador e divertido, vamos e voltamos muitas vezes das palavras às imagens, encontrando novos sentidos e incrementando os descobertos anteriormente.

A escrita híbrida de Raquel Matsushita, cuja criação se realiza em distintos registros – palavras, imagens, cores, materialidade – celebra o livro como experiência estética, convidando as crianças, suas principais leitoras, a experimentar a língua e os desenhos como invenção e brincadeira em um movimento de apropriação do que as palavras e as imagens dizem e do que podem dizer.

O curioso título logo se revela exigência para os leitores, que serão inevitavelmente convocados a se atrever na leitura, lendo, ouvindo e jogando com as muitas possibilidades ali guardadas. A cada virada de página, algo pisca para o leitor, chamando-o para ler, ver e ouvir de novo. Poemas, brincadeiras poéticas ou aforismos desconstruídos e reinventados. Desaforo é não aceitar tantos convites.

Perfil

Raquel Matsushita nasceu em São Paulo. É designer gráfico e ilustradora. Graduou-se em Publicidade e Propaganda pela Universidade Metodista de São Paulo e especializou-se nos cursos de Design Gráfico, Cor e Tipografia na School of Visual Arts, em Nova Iorque.

Tem trabalhos premiados na Bienal de Design Gráfico de 2015, participou do catálogo da Feira de Bolonha em 2016 e 2017. Venceu dois Prêmios Jabuti e os Prêmios da Biblioteca Nacional e da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

Serviço:

O que: Lançamento coletivo de livros da Editora Maralto e sessão de autógrafos com Alexandre Rampazo (Orbitar, 44 págs., R$ 49,90), Daniela Galanti (Nina, Não, 48 págs., R$ 49,90) e Raquel Matsushita (Desaforismos, 32 págs., R$ 39,90).

Quando: 27 de novembro (sábado), das 14h às 18h

Onde: Livraria NovaSete [rua França Pinto, 97, Vila Mariana, São Paulo capital, tel. 11-5573-7889]

Quanto: A entrada é franca e o local segue com os cuidados preventivos à Covid-19.

Catálogo: O catálogo da Editora Maralto poderá ser conferido no Instagram e Facebook @maraltoedicoes.       

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