Em memória de seus 90 anos, Cauby Peixoto tem a discografia dos primeiros 20 anos de carreira lançada em streaming pela Sony Music

Considerado por muitos o maior cantor do Brasil, Cauby Peixoto nos deixou há cinco anos, e neste ano de 2021 estaria completando 90 anos. Celebrando a data, o departamento de marketing estratégico da Sony Music convidou o biógrafo do cantor, o jornalista e escritor Rodrigo Faour para fazer a curadoria deste grande lançamento. Dando prosseguimento ao projeto de digitalização do seu catálogo, incluindo a restauração de tapes analógicos e projetos gráficos originais, a empresa disponibiliza, pela primeira vez, nas plataformas de streaming 17 álbuns do cantor da fase “LP”, três compilações da fase “CD” e outros 32 produtos, entre álbuns de 78 rotações, compactos simples e duplos. Um projeto de fôlego, poucas vezes visto no mercado fonográfico brasileiro que ainda agrupa o melhor deste repertório em quatro playlists temáticas organizadas por Faour, que explica no texto abaixo as minúcias do projeto.

“É um sonho que venho acalentando há anos e imagino que também pelos fãs do Cauby: o de ter essas faixas, na maioria, muito raras, de volta ao mercado. Trata-se de uma discografia tão extensa que se torna até difícil de explicar, quando me perguntam, quantos discos o Cauby gravou, pois não se trata de um cálculo simples. Ele passou pelas mais variadas mídias. Gravou em bolachões de 78 rotações, passou aos LP de dez polegadas, com oito faixas; depois aos 12 polegadas, com doze; enquanto também lançava singles em compactos simples e duplos, até chegar à era do CD e DVD. E ainda teve a sorte de ter a voz nos trinques desde a sua estreia em 1951 até a sua morte, em 2016.

Confira: https://caubypeixoto.lnk.to/90anos

            Este megalançamento da Sony Music engloba as primeiras duas décadas de carreira do cantor, em que se alternava entre a Columbia, onde estreou em 1953, e a RCA Victor, na qual gravou, com alguns hiatos, até 1971 – ambas hoje incorporadas ao acervo da gravadora. Só voltaria à empresa, já rebatizada de BMG, em 1992, com o antológico ‘Angela e Cauby ao vivo’ ao lado de sua eterna companheira musical, Angela Maria. Este álbum também está agora disponível em streaming, incluindo hits mais recentes, como ‘Bastidores’, de Chico Buarque, e o clássico ‘Theme from New York, New York’, com os quais ele sempre encerrava os seus shows.

            O primeiro sucesso de Cauby foi a canção ‘Blue gardênia’, do repertório de Nat King Cole, em 1954, que no ano seguinte intitulou o primeiro LP da Columbia no Brasil, gravado metade aqui, com a orquestra de Renato de Oliveira, e metade em Nova York, com a de um dos maiores maestros de lá, Paul Weston, incluindo outra versão famosa na voz de Nat, ‘The ruby and the pearl’, que virou ‘A pérola e o rubi’. Depois vieram a tarantela ‘Ci-ciu-ci, cantava um rouxinol’, pescada no Festival de San Remo; até chegar ao famoso samba-canção ‘Conceição’, que estourou em 1956 e foi sua marca registrada pelo resto dos seus dias.  ‘Daqui para a eternidade (From here to the eternity)’, “Molambo”, ‘Tarde fria’, ‘Prece de amor’ e ‘Ninguém é de ninguém’ foram outros de seus maiores êxitos.

Nesta época, ele gravava grandes versões de hits internacionais e sambas-canções bem populares, todos sugeridos pelo seu empresário Di Veras, o homem que o lançou nos moldes de Frank Sinatra, com direito a muitos truques de marketing, à época desconhecidos por aqui. Entre idas e vindas dos EUA, onde tentou a carreira, chegou a gravar pérolas em inglês, como um tema espanholado, ‘Toreador’, para o filme ‘Jamboree’, que participou em 1957 por lá. Essas são algumas das muitas raridades que o público terá acesso pela primeira vez em mais de meio século”.

Raridades para todos os gostos

            “Algumas raridades, já havia reeditado na coletânea em CD ‘A bossa e o swing de Cauby’, que produzi em 2004, mas que agora aparecem pela primeira vez em streaming, incluindo o primeiro rock composto no Brasil, ‘Rock’n’roll em Copacabana” (Miguel Gustavo), de 1957, e canções que ele cantava em sua própria boate, Drink, que arrendou entre 1964 e 68 no mesmo bairro que inspirou nosso rock pioneiro, tais como ‘People’, sucesso de Barbra Streisand, e vários sambalanços, como ‘Tamanco no samba’, de Orlandivo e Helton Menezes, e bossas como ‘Samba do avião’, de Tom Jobim, que ele teve a primazia de lançar, e ‘Canto de Ossanha’, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, famosa na voz de Elis Regina.

Estas joias agora se somam a outras ainda mais raras, como sua gravação de ‘Berimbau’, mais uma da referida dupla de autores, e ainda um samba-canção consagrado na trilha do filme ‘Orfeu negro’ (‘A felicidade’), outro pouquíssimo conhecido composto por Dolores Duran (‘Me deixa em paz’), um clássico da bossa nova romântica de Eumir Deodato e Paulo Sérgio Valle (‘Razão de viver’), um bolero que remete ao glamour de Copacabana dos anos dourados (‘Drink na praia’, de Luiz Antônio e Gilberto Panicalli), dois belos e autênticos fados (‘Lisboa antiga’ e ‘Canção do mar’) e músicas que se tornaram conhecidas pelos filmes estrangeiros que aportavam no país, como ‘La violetera’ (na voz de Sarita Montiel), “Al di la” (do filme ‘Candelabro italiano’, que virou ‘Muito além’) e ‘Anastasia’ (hit de Pat Boone na película homônima).

A lista de raridades inclui algumas inusitadas canções latinas (‘Mambo do galinho’ e ‘O louco’) e boleros muito românticos de Evaldo Gouveia e Jair Amorim (‘Depois de ti’, ‘Sentimental demais’, ‘Que queres tu de mim’, ‘E a vida continua’, ‘Ave Maria dos Namorados’ – esta é um grande sucesso do cantor, em 1963, até então indisponível em digital). Há ainda canções românticas que defendeu em filmes nacionais (‘Melodia do céu’, ‘Onde ela mora’), animados foxes (‘Outro dia virá’), canções tradicionais brasileiras (a valsa ‘As três lágrimas’, de Ary Barroso e o samba ‘Chora cavaquinho’, de Dunga, mesmo coautor de ‘Conceição’) e um divertido repertório carnavalesco, que vale como crônicas de época. São marchinhas como ‘Mil mulheres’, ‘Cabo frio’, ‘Lambuzando o selo’ e ‘Quebranto’; e sambas, como ‘Palácio de pobre’ e “Nem toda flor tem perfume”. Entre as raridades, há até mesmo uma regravação da canção favorita do repertório de sua amiga Angela Maria, ‘Gente humilde’, e um baião, sua gravação de estreia na Columbia, em 1953, ‘Caruaru’”.

Playlists temáticas para melhor curtir Cauby

            “Pelo fato de Cauby ser um artista múltiplo e que atravessou muitos modismos musicais, criar playlists temáticas se tornou fundamental ao projeto. Assim, será possível entendê-lo não apenas como um ídolo da música popular romântica, mas como um intérprete refinado de bossas e sambalanços, bem como dos mais variados ritmos, nacionais e estrangeiros, sendo capaz de cantar em vários idiomas ou versões de canções internacionais com igual maestria”, explica Faour. São quatro playlists agora disponibilizadas: “Cauby romântico e popular”; “Cauby internacional – Volta ao mundo com Cauby”; “Cauby versátil – De todos os ritmos” e “Cauby chique – Bossa Nova, sambalanço e muito swing”.  Agora, os fãs poderão revivê-lo a qualquer hora e os novos admiradores terão a chance de descobrir um cantor eclético, muito além de sua famosa “Conceição”.

ÁLBUNS DISPONÍVEIS EM STREAMING: “Blue Gardenia” (1955), “Você, a música e Cauby”, “O Show vai começar” (1956), “Canção do rouxinol” (1956), “Ouvindo Cauby” (1956), Música e romance” (1957), “Nosso amigo Cauby” (1957), “Prece de Amor” (1958), “Seu amigo Cauby cantando para você” (1959), “O sucesso na voz de Cauby Peixoto” (1959),  “Canção que inspirou você” (1961), “Cauby Canta novos sucessos” (1961), “Perdão para dois” (1962), “Tudo lembra você” (1963), “Cauby interpreta” (1964), “Cauby canta para ouvir e  dançar” (1965), “Porque só penso em ti” (1965) e “Angela & Cauby Ao Vivo” (1992) – e ainda 32 produtos entre álbuns de 78 rotações, compactos simples e duplos.

COLETÂNEAS DOS ANOS 90 E 2000: “A bossa e o swing de Cauby Peixoto”, “Série Acervo Especial” e “Série Maxximum”.

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