Casa Vogue celebra a herança cultural do artesanato baiano


Tukunã


Tecendo, pintando, trançando ou moldando, artistas e artesãos conferem à herança cultural de Trancoso formas e cores sempre atuais. Personagens do artesanato local contam à Casa Vogue como levam identidade para a região.


Valquito Lima


“Eu não escolhi ser tecelão, a tecelagem me escolheu”, fala Evandro Duarte, que aprendeu o ofício com a mãe na adolescência, passada em Minas Gerais, e o exerce há mais de 20 anos. Chegou a usar tear industrial, mas não se identificou com a produção em série, para o atacado. Com um equipamento manual embaixo do braço, decidiu buscar oportunidades na capital paulista, sem sucesso. “Em 2008, fui passear em Porto Seguro. Quando desembarquei lá, achei que o lugar tinha a cara do meu trabalho”, relembra. Resolveu ficar mais, não sem enfrentar inúmeras dificuldades. “Fui roubado, perdi dinheiro e documentos e vivi dois anos na rua. ” Conseguiu um emprego de garçom, economizou e pediu que a mãe enviasse seu tear para a Bahia. Tentou comercializar suas peças em Porto Seguro e Arraial d’Ajuda, até que, em Trancoso, conheceu Wilbert Das, designer e idealizador do Uxua Casa Hotel & Spa, que o convidou a confeccionar artigos para o estabelecimento. Há cinco anos Evandro comanda os teares do ateliê do hotel, de onde saem exclusividades que estão à venda na lojinha do Uxua.

O Quadrado é o berço de Valquito Lima e a morada de sua arte: ali, em frente à igreja de São João Batista, suas obras estão permanentemente expostas. Neto de Licínio Alves, grande mestre da arte folclórica, ele assumiu o compromisso de colorir os mastros sagrados e manter viva essa tradição no vilarejo. Como uma espécie de amuleto, eles são trocados anualmente durante as celebrações de São Sebastião e de São Brás (e exibem no topo as bandeiras de Damião). “O mastro é como um ex-voto, um material de promessa. Por meio das cores e das simbologias, tento transmitir para a comunidade a esperança de um ano melhor”, afirma, consciente da responsabilidade que herdou.


Rael e Pila

O Quadrado é também o cenário da vida de Damião Vieira. Ali ele cresceu, e essa paisagem compõe a maioria de suas artes. Nunca imaginou, no entanto, que poderia viver disso. “Eu pescava, atuava como pedreiro, garçom, realizava qualquer atividade que me sustentasse.” No paralelo, pintava cartões-postais, rótulos de geleia e quadros pequenos. Em 1989, uma exposição organizada pelo artista Yvon Suarys deu o empurrão que faltava. Damião desempenha uma função importante para a comunidade local: há mais de 30 anos, pinta as bandeiras de São Sebastião e de São Brás nas festas homônimas que ocorrem em janeiro e fevereiro e são consideradas patrimônio imaterial da vila.

Distribuídos pelo extremo sul da Bahia e pelo norte de Minas Gerais, os Pataxó marcam forte presença em Trancoso – inclusive no nome do hotel Uxua, palavra que nessa língua indígena significa maravilha. Habitante da Aldeia Mãe de Barra Velha, Tukunã aprendeu a pintura tradicional quando criança, assistindo os parentes e amigos praticarem a arte ancestral elaborada com a tinta do jenipapo. Hoje, junto com o primo Tapurumã, aplica motivos tribais em almofadas, mantas, roupas, quadros e outros objetos que decoram as casas do hotel e são comercializados na lojinha do Uxua.

Israel de Jesus Filho teve 16 filhos, mas só Luiz Carlos Barreto de Jesus seguiu seus passos na cestaria. “Não quero deixar o legado dele acabar”, conta. Conhecida como Rael e Pila, a dupla mantém uma loja na vila desde 1980. Lá estão reunidas suas criações, que incluem luminárias, bandejas, cestos, lixeiras, pufes, cadeiras e bolsas. Os itens empregam fibras encontradas na região: piaçava, cipó e palha de taboa, dendê e aricuri. Na hora de trançar, Pila não esconde sua favorita. “Eu prefiro a piaçava porque pouca gente usa. Ela é muito fininha, mais difícil de manusear, então as pessoas não têm paciência. “

O barro faz parte da vida de Josevaldo Santana, o , e José de Almeida, conhecido como Zé da Cerâmica, há muito tempo. “Aos 12 anos comecei a moldar com a minha avó, que confeccionava panelas de barro, e com o meu avô, produtor de telhas”, relata Zé. Em Trancoso, desenvolveu ainda mais suas habilidades com o famoso ceramista João Calazans Luz, o Calá. “Ele me incentivou muito, foi minha segunda base.” Zé adora modelar peixes, iemanjás e a igrejinha do Quadrado.

Confira a íntegra da matéria na edição de dezembro e janeiro da revista Casa Vogue.

Serviço
Revista Casa Vogue | Edição de dezembro e janeiro
Nas bancas a partir de 17 de dezembro

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