ALICE GUY-BLACHÉ: A HISTÓRIA NÃO CONTADA DA PRIMEIRA CINEASTA DO MUNDO


resgata legado de precursora do cinema que teve seu trabalho negligenciado pela história

Secretária do engenheiro e inventor Léon Gaumont, Alice Guy-Blaché tinha 22 anos quando acompanhou o chefe em um evento que aconteceu em Paris em 1895. Esse evento fechado era nada menos do que a apresentação que os irmãos Lumière faziam de sua mais nova invenção: o cinematógrafo. Preenchida de admiração ao presenciar o nascimento do cinema, Guy-Blaché pediu ao chefe se poderia filmar algumas cenas. Gaumont aceitou contanto que ela continuasse a cuidar das cartas que chegavam na empresa. Começava ali a carreira de uma prolífica cineasta, esquecida pela história e resgatada no documentário ALICE GUY-BLACHÉ: A HISTÓRIA NÃO CONTADA DA PRIMEIRA CINEASTA DO MUNDO .

Guy-Blaché acabou sendo nomeada chefe de produção da Gaumont e, em duas décadas, realizou cerca de mil filmes. Desde suas primeiras produções, a diretora contava histórias. Foi uma das primeiras a criar obras narradas. Seus filmes eram sofisticados e engajavam emocionalmente o espectador.

“Como pode uma figura tão importante para o cinema ser desconhecida?” foi a pergunta que motivou a diretora Pamela B. Green a fazer esse documentário, que estreou no Festival de Cannes em 2018. A pesquisa intensa para o longa revela, entre outros, uma coleção de filmes perdidos, uma das mais antigas do mundo, com obras produzidas e dirigidas por Alice Guy-Blaché.

“Talvez a mulher mais famosa da qual você nunca ouviu falar, Alice é uma pessoa que nunca deve ser esquecida, e é por isso que dediquei mais de 8 anos a fazer este filme para contar sua história”, conta Green.

Com depoimentos de nomes como os dos cineastas Ava DuVernay, Agnès Varda, Michel Hazanavicius e Peter Bogdanovich, além de atores, roteiristas, pesquisadores, historiadores, professores e parentes de Guy-Blaché, o longa é narrado por Jodie Foster. O maior doador do filme foi o fundador da Playboy, Hugh Hefner (1926-2017), que assina a produção-executiva.

ALICE GUY-BLACHÉ: A HISTÓRIA NÃO CONTADA DA PRIMEIRA CINEASTA DO MUNDO

Be Natural: The Untold Story of Alice Guy-Blaché

EUA, 2018, 103 min. Documentário, cor e p&b

direção, produção e montagem Pamela B. Green

roteiro Pamela B. Green e Joan Simon

narração Jodie Foster

direção de fotografia Boubkar Benezabat

música Peter G. Adams

entrevistados John Bailey, Lake Bell, Jon M. Chu, Diablo Cody, Geena Davis, Julie Delpy, Ava DuVernay, Michel Hazanavicius, Patty Jenkins, Ben Kingsley, Walter Murch, Andy Samberg, Marjane Satrapi, Julie Taymor, Agnès Varda, Evan Rachel Wood, entre outros

distribuição Arteplex Filmes

SINOPSE

Quando Alice Guy-Blaché terminou seu primeiro filme em 1896, em Paris, ela não era apenas a primeira cineasta mulher, mas também um dos primeiros diretores de cinema a fazer um filme narrado. Be Natural segue sua trajetória, desde secretária na Gaumont até sua indicação como Diretora de Produção em 1897, e sua subsequente carreira de sucesso de 20 anos na França e nos Estados Unidos, como fundadora de seu próprio estúdio, além de roteirista, diretora e/ou produtora de mil filmes – e depois completamente apagada da história. Até agora.

DEPOIMENTOS SOBRE O LEGADO DE GUY-BLACHÉ

“Quando Pamela Green falou comigo pela primeira vez sobre Alice Guy Blaché, pensei: ‘Como é possível que eu nunca tenha ouvido falar dela?’ Uma das grandes pioneiras da nossa indústria, que criou filmes ao lado dos Irmãos Lumière, de Léon Gaumont, de Georges Méliès .. Até onde sabemos, ela é a primeira diretora de cinema, possivelmente uma das primeiras narradoras de cinema de todos os tempos. Uma escritora, produtora, chefe de estúdio, com mil filmes em seu currículo. Os fatos deste documentário me surpreenderam. É uma honra dar voz a esta história. Que a trajetória de Alice finalmente restaure seu lugar na história do cinema.”

Jodie Foster, atriz, diretora, produtora

“A contribuição de Alice Guy-Blaché ao cinema primitivo foi monumental em vários níveis. Sua quase total ausência na vasta maioria dos livros de história do cinema tem sido nada menos que criminosa. Este filme bonito, divertido e com uma pesquisa obsessiva faz um enorme progresso para corrigir essa incrível injustiça.”

Mark Romanek, diretor

“Foi o amor ao longo da vida de Hugh Hefner que inspirou as contribuições significativas que ele fez para preservar, restaurar e celebrar filmes e os pioneiros que ajudaram a criá-los. Embora Hef não tenha vivido o suficiente para ver o documentário concluído, ele estava ansioso para que a história de Alice Guy-Blaché fosse contada com a esperança de que ela finalmente tivesse seu merecido lugar na história.”

Dick Ronsenzweig, produtor

“É muito humilhante ver como o trabalho de Alice era avançado há cem anos. Esse trabalho lembra que a história de uma forma de arte não é uma linha reta e que o progresso – o que quer que isso signifique – depende mais das pessoas do que do tempo.”

Anne Fontaine, atriz, diretora, escritora

PAMELA B. GREEN

Originalmente de Nova York, Pamela B. Green viveu a maior parte de sua vida na Europa e em Israel e, como resultado, é fluente em inglês, francês, italiano e hebraico. BE NATURAL: A HISTÓRIA NÃO CONTADA DE ALICE GUY-BLACHÉ, sobre a primeira cineasta mulher, estreou no Festival de Cannes na categoria Clássicos de Cannes, em 2018, e participou da seleção oficial do Deauville American Film Festival, do Telluride Film Festival, do 56º New York Film Festival e do BFI London Film Festival, entre outros.

Fundadora da PIC, uma agência que trabalha com entretenimento com sede em Los Angeles, Green trabalha com design gráfico, animação, editoração e pesquisa. A cineasta fundou recentemente a Legwork Collective, cujos “detetives de mídia” encontram e adquirem direitos sobre imagens, fotos, áudio e artefatos incomuns e raramente divulgados para serem usados em ficções, documentários, séries de TV, comerciais e outros.

Indicada ao Emmy pelo documentário BHUTTO, Pamela B. Green produziu, criou e assessorou sequências de histórias e campanhas de marketing para filmes das franquias Bourne, Velozes e Furiosos, Os Muppets, O Chamado e de diversas séries de quadrinhos da Marvel.

Ela também trabalhou em filmes como O SEGREDO DA CABANA e O REINO. Para televisão e streaming, Green criou títulos para Supergirl, The Flash e Quantico, entre muitos outros. Além disso, a cineasta dirigiu e produziu programas de TV e, entre outros, para os prêmios Oscar, Billboard, Critics Choice Awards e MTV Awards.

DEPOIMENTO DA DIRETORA

Quem foram os primeiros diretores de cinema?

As respostas podem variar, mas raramente incluem Alice Guy-Blaché, que em 1896 fez um dos primeiros filmes narrativos da história.

O núcleo deste filme é a história não contada de Alice, uma força criativa, empreendedora, líder e mentora em um novo campo. Este filme é a celebração de uma mulher que estava lá no começo das imagens em movimento, no cruzamento de inovação, tecnologia e narrativa que mais tarde se tornou a indústria do entretenimento como a conhecemos hoje.

Como o filme estava centrado em torno de uma força motriz feminina na indústria cinematográfica, eu sabia que era importante conseguir uma mulher forte para narrá-lo. Jodie Foster foi uma decisão fácil. Ela é uma atriz, diretora e produtora incrível. E ela fala francês perfeitamente. Precisávamos de alguém que entendesse o idioma e a cultura para ajudar a contar a história sem problemas. Além de Foster, o apoio da comunidade cinematográfica foi fundamental na criação deste filme. Robert Redford foi o primeiro apoiador do filme, com Catherine Hardwicke como a primeira entrevista em profundidade que pude realizar. O que pode ser a maior surpresa para algumas pessoas é que Hugh Hefner é o maior doador individual do longa. A manifestação de apoio de Hollywood em geral tem sido extremamente positiva e me incentivou a concluir este filme.

A primeira vez que fiquei motivada a começar a produção deste filme foi enquanto assistia um programa sobre mulheres pioneiras no cinema, que incluiu Alice Guy-Blaché. Não fui à escola de cinema, mas trabalho na indústria do entretenimento e fiquei surpresa por nunca ter ouvido falar dela. Perguntei a várias pessoas e percebi que elas também nunca ouviram falar dela. E eu continuava perguntando. Como poderia ser desconhecida uma figura tão importante no nascimento do cinema? Ficou claro que eu tinha que contar a história dela. Tendo trabalhado nos filmes de Robert Redford, perguntei a ele e ele ficou surpreso por não a conhecer.

Os descendentes de Alice Guy-Blaché nos deram acesso total a seus documentos, fotos, diários e outros materiais de seu arquivo pessoal. Como parte do trabalho de detetive deste filme, descobrimos uma coleção de filmes perdidos, uma das mais antigas do mundo, e identificamos cerca de 10 filmes que Alice dirigiu ou produziu. Tudo isso me permitiu preencher as lacunas desta história – e junto com as novas informações, descobri que havia muitas controvérsias em torno dessa mulher extraordinariamente criativa.

Alice estava trabalhando na vanguarda do avanço tecnológico no cinema, e eu queria usar as melhores e mais recentes tecnologias disponíveis para contar sua história. A abordagem estética é guiada pela aparência do ponto de virada entre a Belle Époque e o início do século XX, filtrada por uma lente moderna. Nosso objetivo não é apenas olhar para o passado de Alice, mas ficar ao lado dela e olhar para o futuro dela – nosso presente.

Senti que agora era a hora certa, mais do que nunca, de dar um passo à frente e ajudar a trazer à luz a história de Alice, dada toda a conversa atual sobre os direitos das mulheres e com que frequência as histórias das mulheres são empurradas para as sombras ao longo da história.

Minha esperança é que este filme promova a conversa sobre o quanto as mulheres são necessárias para a arte do cinema. Se as pessoas sabem sobre Alice – ou conhecem e continuam a se lembrar de suas contribuições para o início da história do cinema – quão diferente pode ser o cenário criativo e de negócios? Havia muitas, muitas mulheres cineastas nos primeiros anos, mas a história as esqueceu. Está na hora de mudar isso.

De todas as formas, e de muitas maneiras, o filme preenche a lacuna entre o passado e o presente, e acredito que inspirará as gerações futuras a pegar suas ferramentas (sejam elas quais forem) e seguir em frente.

No Comments Yet

Comments are closed